segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

Guerra dos meninos é anomalia brasileira

Em condições normais, nenhuma intervenção humana seria capaz de alterar a monotonia da curva de mortalidade nas sociedades que venceram obstáculos elementares de nutrição e saúde.

Há um pico inicial na taxa de mortes no primeiro ano de vida, logo revertido, seguido de um incremento suave nas primeiras décadas, que se acentua bastante a partir dos 45 anos. O padrão entre os sexos também segue um curso previsível.
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De 0 a 80 anos, homens morrem mais que mulheres, mas a diferença é altamente concentrada nas três décadas que vão dos 45 aos 75 anos de idade. Características fisiológicas masculinas ainda não acessadas pela medicina provavelmente comandam essa divergência de rotas.

No Brasil, a escala da matança de meninos de 15 a 25 anos modificou o que a nossa economia de renda média faria prever. Essa curta etapa da vida, em que normalmente poucas pessoas morrem e as taxas de mortalidade entre homens e mulheres mal divergem, responde por 8,8% de toda a diferença de mortes entre brasileiros e brasileiras de 0 a 79 anos.

Na Alemanha, que poderíamos tomar por um país normal, apenas 1,2% da diferença na mortalidade entre os sexos ocorre na faixa de 15 a 25 anos. Em resumo, no Brasil morrem sete vezes a quantidade esperada de homens nessa faixa etária. São cerca de 20 mil vidas desperdiçadas a cada ano dessa arriscada juventude.

A violência é o fator que, em conjunto com a estúpida cifra de mortes no trânsito, retira o Brasil da trajetória demográfica que seu nível de desenvolvimento asseguraria. É uma guerra em que meninos matam e morrem aos montes, como naqueles conflitos africanos entre exércitos de crianças. Aqui, entretanto, eles são travados em regiões metropolitanas populosas.

Os senhores que vão tomar conta da segurança no Rio em nome da União deveriam estar cientes desse diagnóstico.

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