terça-feira, 2 de janeiro de 2018

Quem vive mais, é claro, também consome e paga impostos por mais tempo

Pessimamente assessorado por empresas de propaganda que nada entendem de política da informação, o presidente Michel Temer vem defendendo a reforma da Previdência, cujo orçamento seria intensamente afetado pela longevidade de homens e mulheres. Falso argumento. Temer esquece que os que vivem mais tempo também durante maior período consomem mais e contribuem com mais impostos tanto para a União quanto para os estados e municípios. O presidente da República esquece esses aspectos e se concentra no déficit de 149 bilhões de reais por ano para o INSS.

Esquece também que os aposentados que continuam trabalhando, na escala de 20% do total permanecem contribuindo para o INSS sem receber nada em troca. Mas esta é outra questão.

O fundamental é que o déficit apontado para o INSS não chega à metade dos encargos do Tesouro Nacional com o pagamento de juros para rolagem da dívida interna. Reportagem de Bárbara Nascimento, O Globo desta sexta-feira, destaca que o endividamento pode atingir em 2018 a elevada parcela de 80% do Produto Interno Bruto, caso o BNDES não devolva ao Banco Central recursos da ordem de 130 bilhões de reais que recebeu do Tesouro. Portanto, como o PIB oscila em torno de 4,5 trilhões de reais, se não houver ingresso na receita dos adiantamentos recebidos pelo BNDES o montante da dívida atingirá 4,8 trilhões de reais.

Sobre esse total incidem os juros da Selic na escala hoje de 7% a/a. Basta comparar o desembolso com juros de aproximadamente 300 bilhões ao ano com o alegado déficit da Previdência Social. O governo, porém, não parece considerar importante o que ele paga à mão de tigre do mercado financeiro.
Pelo contrário. As agências de propaganda do governo não veiculam uma palavra a respeito da despesa com juros e só focam na despesa com o pagamento dos aposentados e pensionistas. Um erro tremendo. As agências tão eficientes em anunciar produtos aos consumidores, tornam-se um desastre em matéria de comunicação política. A culpa, aliás, é mais do governo do que delas. Porque elas desempenham contratos financeiros que foram firmados e não podem escolher as mensagens.

Uma pena. Porque, se pudessem escolher as mensagens, chegariam à conclusão de que a comunicação exige um oferecimento positivo aos consumidores. No caso da Previdência, os consumidores são a própria população brasileira . Cem milhões de brasileiros e brasileiras que trabalham, no caso da reforma da Previdência, em vez de receberem notícias positivas, ao contrário, são abastecidas por matérias negativas. Um desastre.
Ainda por cima, o governo e o PMDB, reportagem de Vera Rosa, O Estado de São Paulo de 29, anunciam para 2018 uma agenda social que inclui a possibilidade de Michel Temer vir a ser candidato à reeleição. A hipótese é defendida pelo ministro Aloysio Nunes Ferreira. Ele considera que as urnas do próximo ano, se não incluirem Lula, a realidade passará a ser outra.

Mas, afirmo eu, com a reforma da Previdência a realidade política para Michel Temer terá batido no fundo do poço. Aloysio Nunes Ferreira está vivendo um sonho. O eleitorado está vivendo um pesadelo.

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