O ano de 2018 nasce numa segunda exatamente 50 anos depois de 2018. Esse aniversário não deveria ofuscar o ano que entra mas sim ajudar a entender esse meio século.
Em 68, nem tudo aconteceu da mesma forma. Na Praça de Tlatelolco, no México, mais de 200 estudantes foram assassinados. Luther King, assassinado, Robert Kennedy, assassinado.
Nem todas as lutas eram idênticas. Hoje, 68 é associado às românticas revoltas da juventude, aos sutiãs queimados e expectativas de mais liberdade sexual.
Nem todas as lutas eram idênticas. Hoje, 68 é associado às românticas revoltas da juventude, aos sutiãs queimados e expectativas de mais liberdade sexual.
Na verdade, eles eram um subenredo. Lembro-me que ao dissolver o congresso da UNE, em Ibiuna, a policia fez questão de exibir todas as pilulas anticoncepcionais encontradas no sitio.
A intenção era sugerir promiscuidade sexual. Hoje, talvez fosse um indicio apenas de precaução.
Quase nunca falo de 68 porque já me cansei do tema. No entanto, faz alguns anos que sempre me pergunto: até ponto a mudança de comportamento foi influenciada pelos jovens até que ponto o instrumento realmente decisivo partiu de um salto científico com a disseminação da pilula?
O ano de 2018 apesar de começar na segunda como 1968 enfrenta uma conjuntura bastante desafiadora. Apesar dos 50 anos de lutas por direitos civis nos EUA, a eleição de Trump representa um golpe na ilusão de um progresso linear.
As ondas migratórias, com o crescimento da extrema direita, colocam em xeque as teses do multiculturalismo que estimulou as lutas identitárias dos imigrantes.
No Brasil, a lembrança mais próxima é a um longo periodo de dominação da esquerda que alem de falhar nos campos da ética e da economia revestiu esses temas culturais de uma estreiteza partidária lamentável. Os direitos humanos foram as primeiras vitimas: são vistos hoje com desconfiança.
Em toda a parte, nos Estados Unidos, na Europa e no Brasil tornam-se mais fortes as linhas conservadoras que questionam esse possivel legado de 68.
Talvez fosse um momento para refletir com a experiência da juventude. Quando se quer o mundo você pensa apenas no seu objetivo e esquece um pouco dos outros.
De repente, descobre que a maioria prefere outro caminho. É hora de dialogar. Em 68, o traço de união era lutar contra um regime ditadorial. Em 2018 é de reconstruir um pais, sob muitos aspectos, arrasado.
Mas 2018 acontece 50 anos depois. As lutas continuam se desenvolvendo. As feministas queimavam sutiãs em 2018. Hoje, com a entrada maçica das mulheres na força de trabalho, elas questionam o assedio sexual nas empresas. E não só nas de Hollywood mas também nas grandes montadoras.
De la para houve a revolução digital e um processo continuo de mudanças que nos envolvem. É nesse quadro amplo de transformações que precisamos achar um rumo.
O fator nacional de referência é a reconstruçao do tecido democrático, mudanças no sistema politico partidário, recuperação da economia.
Grandes debates sobre costumes, alguns fundados, outros artificiais, vão seguir acontecendo. O importante é saber em que lugar e em que ano estamos. Reconheço que mesmo nesses quesitos não há unanimidade: as pessoas vivem em tempos diferentes.
Dai a importância das eleições, como troca de ideias, uma oportunidade real de saber para que lado a maioria quer levar o Brasil.
Sempre desejo feliz 2018 lembrando que sera um ano dificil. Mas não os vejo como termos antagônicos. 1968 também foi um ano dificil. E muitos o viveram com alegria.
Cada época com seus fantasmas. O importante para quem viveu algumas é não confundi-los. Como Drummond,de copo na mão esperar o amanhecer,sabendo que...
Para ganhar um Ano Novo/Que mereça esse nome,/Você ,meu caro, tem de merecê-loTem de faze-lo de novo, eu sei que não é fácil/ mas tente, experimente consciente./ é dentro de você que o Ano Novo/chochila e espera desde sempre.Um país também não escapa dessa lógica. Para ganhar um Ano Novo terá de merecê-lo. Ainda que 2018 desapareça na névoa do história e ninguém se lembre dele ao completar meio século. Mas é o ano que temos, o tempo presente . tão grave no Brasil que nos convida a andar devagar e, se possível, de mãos dadas.
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