Creio que, como eu, a maioria da população brasileira deve encerrar o ano de 2017 como aquela sensação de que “já vai tarde”, tal a carga de notícias negativas que tivemos que suportar ao longo dos últimos doze meses. E creio que, tal como eu, a maioria anseia pela chegada de 2018, pois cultivamos a ilusão – necessária para que possamos sobreviver – de que a simples mudança no calendário trará modificações substantivas na vida pessoal e coletiva. Embora no fundo saibamos que tudo não passa de fantasia, jogamos fora o caderno velho, cheio de anotações, amassados e rabiscos, para iniciarmos outro, novinho, que prometemos usar com capricho.
Mas o que será que, efetivamente, nos aguarda em 2018? Porque, por mais que almejemos os melhores cenários, temos que estar preparados para as intempéries. É como naquela história dos Três Porquinhos, na qual o mais prudente, o que construiu sua casa de alvenaria, consegue não só escapar do Lobo Mau, como ainda pode dar guarida aos dois irmãos mais negligentes, que ergueram suas casas com palha e madeira. De certo, temos que o evento mais importante do ano, as eleições para Presidente da República, governador, deputados federal e estadual e senador, ganharão as ruas somente após a Copa do Mundo da Rússia. E isso, por si só, já é preocupante...
O Brasil deve fechar o ano com um crescimento pífio do Produto Interno Bruto(PIB), algo em torno de 0,89%, segundo o mercado financeiro, o que é trágico, se lembrarmos que os últimos dois anos foram de crescimento negativo – 3,77% em 2915 e 3,6% em 2016. Para o ano que vem, o Fundo Monetário Internacional(FMI) estima um crescimento de 1,5%, condicionado à estabilidade política. O desemprego, pelas mesmas projeções, deve encerrar 2017 com uma taxa de 13% e para 2018 a perspectiva ainda é de uma altíssima taxa por volta dos 12%. A inflação prevista, 2,88%, segundo levantamento do Banco Central, mostra, muito mais que controle de preços, a profunda retração do mercado.
Se a planilha nos exibe apenas números frios, basta caminharmos pelas ruas de qualquer cidade do país para que transformemos as estatísticas em histórias reais. Tomemos um exemplo. A avenida Paulista, em São Paulo, considerada o maior centro financeiro da América Latina – portanto, símbolo da riqueza do sistema capitalista periférico -, mostra com todos os detalhes a areia movediça na qual estamos afundando. Nas calçadas, largas e em geral relativamente limpas, homens de terno e mulheres de tailleur desviam-se apressados de sem-teto, muitos deles novos pobres, que entraram porta adentro do mundo da mendicância recentemente.
Devemos terminar 2017 com um regime de insegurança jurídica em relação ao sistema trabalhista – e talvez também em relação ao sistema previdenciário – e com os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário totalmente desacreditados, envolvidos, todos, em denúncias de corrupção. Com um Estado débil, liderado por um presidente sem legitimidade, vagamos por mares tempestuosos. A violência urbana deve vitimar cerca de 60 mil pessoas – jovens, pobres e negros, em sua absoluta maioria –, enquanto outros 34 mil perderão estupidamente a vida no trânsito. E um número indefinido de brasileiros morrerá por falta de assistência médica e outros milhões verão seus caminhos interrompidos por falta de educação de qualidade.
A Copa do Mundo da Rússia começa no dia 14 de junho e tem seu último jogo no dia 15 de julho. Um mês depois, no dia 16 de agosto, tem início o período de propaganda eleitoral – a propaganda gratuita no rádio e televisão começa dez dias depois. No dia 2 de outubro, iremos às urnas para decidir nosso futuro, que, é bom lembrar e repisar, não está ligado apenas a definir o nome do novo Presidente da República, mas também para desenhar o novo Congresso que ditará as regras nos quatro anos seguintes e, em nível mais local, o novo governador e a nova Assembleia Legislativa. Muito pouco tempo para tanta coisa...
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