Existem dúvidas se já batemos no fundo do poço. Quando parece que chega, alguém começa a cavar. Talvez esse poço nem fundo tenha. Mas o fato é que tudo o que assistimos foi construído lentamente. Por desenho, destino ou desejo, a cada passo, houve comemoração. Um país inteiro que decidiu ignorar evidencias, tolerar comportamentos e, sobretudo, abster-se do dever de questionar.
Faz tempo que a gente decidiu não fazer sentido. Não parecia preciso. Bastava embarcar na canoa furada do nacionalismo tacanho e docemente aceitar que se cometessem gigantescas fraudes.
Entre a preservação das instituições e o populismo, preferimos o segundo. Deu no que estamos vendo. E, provavelmente, no que continuaremos vendo. Degradar instituições é trabalho de anos. E recupera-las, requer décadas. Neste filme interminável, o desfecho é sempre previsível. Quem perde são os cidadãos.
É até possível que nem um bom filme estas historias todas vão gerar. Neste enredo indigente, nem os vilões são interessantes. São simplesmente medíocres, sem carisma, sem inteligência, charme ou sutileza. Em qualquer outro tempo ou lugar, seriam apenas coadjuvantes sem importância. Na era da mediocridade, ocupam o centro do palco.
Não existe exercício mais rematado de perda de tempo que procurar nessa gente ângulo que revele contribuição positiva, talento ou mérito. Qualidades relevantes para o sucesso na era da mediocridade são poucas. Ou apenas duas: ausência de escrúpulos e proximidade dos cofres públicos. Inteligência ou talento são opcionais. E raros.
Enquanto já se avista o final da segunda década do século, o país aperta o passo em sua marcha batida em direção ao atraso. E, no caminho, vai confirmando o que de pior se dizia dele. Permanece à deriva, arrastado pela correnteza de um rio de mediocridade.
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