terça-feira, 12 de setembro de 2017

Direita ou esquerda? Votações indicam posição de partidos no espectro ideológico

Os brasileiros estão insatisfeitos com os partidos políticos. No fim de junho, o instituto de pesquisas Datafolha divulgou o último levantamento sobre preferência partidária: 59% dos respondentes disseram não preferir ou se sentir representados por nenhum partido em particular.

A profusão de notícias sobre investigações de corrupção, que envolveram as principais lideranças de todos os grandes partidos nacionais, é parte da explicação para o mal-estar entre eleitores e agremiações políticas. Ao expor a disseminação de práticas criminosas entre políticos das mais distintas colorações, as investigações ajudaram a sedimentar a impressão de que não existe qualquer diferença ideológica entre as legendas e que todas as suas ações são orientadas pela fisiológica busca de poder.

Nas redes sociais, essas sensações transbordam para reclamações focadas especialmente nos partidos historicamente identificados com um programa ideológico: o PT, que domina o campo da esquerda, tem sido acusado de abandonar pautas da esquerda em favor de uma agenda voltada aos interesses do empresariado, inflexão que a sigla nega.

Já ao PSDB, de centro-direita, foram dirigidas especulações sobre um aumento de seu "esquerdismo" e até de ligações da legenda com o "socialismo fabiano", um movimento da esquerda britânica que preconizava o fim do capitalismo.Image captionCerca de 3,6 mil pessoas reagiram a este meme, postado no dia 30 de junho no Facebook (Foto: Corrupção Brasileira Memes / Reprodução)

Para checar se a impressão sobre a falta de consistência ideológica dos partidos guarda relação com o comportamento das legendas na hora de definir os rumos do país, a BBC Brasil analisou os resultados de dez votações recentes e relevantes na Câmara dos Deputados. Os números mostram que, ao contrário do que possa parecer, há, sim, alguma coerência na atuação da maioria das legendas tanto em temas econômicos quanto em assuntos sociais. Partidos com pensamento econômico mais liberal ou mais socialista ou de cunho mais progressista ou mais conservador em relação a costumes tenderam a manter suas posições na maioria dos casos.


A partir das votações na Câmara, é possível construir um gráfico aproximado da tendência ideológica demonstrada por cada um dos partidos no período das votações, entre 2015 e 2017. A maioria das siglas se comportou de forma liberal quanto à economia, e votou de maneira mais conservadora em temas relacionados a costumes (política penal, questões ambientais etc). No compasso político, os partidos ficariam assim:


Para chegar a este resultado, a reportagem da BBC Brasil calculou o percentual de votos favoráveis ou contrários a projetos de lei considerados chave, como as mudanças nas regras de exploração do pré-sal, a reforma trabalhista ou a redução da maioridade penal, nas bancadas de cada partido. Quanto mais liberal forem os posicionamentos dos deputados do partido, mais à direita a legenda aparecerá no gráfico. Entre os grandes, o PSDB se destaca nessa posição. Da mesma forma, votações mais conservadoras fizeram as legendas aparecer nos quadrantes superiores. As barras que separam os campos ideológicos representam a média geral da votação.

O gráfico é uma aproximação: se outras votações tivessem sido escolhidas, ou se o período de tempo fosse outro, o resultado seria ligeiramente diferente. No entanto, dificilmente algum dos partidos migraria para outro quadrante ideológico.

Além disso, este tipo de gráfico traz distorções no caso de partidos muito pequenos, com menos de três ou quatro deputados: os votos de poucos parlamentares ganham peso desproporcional. É o caso do PRP, do PEN e do PSL, entre outros. No geral, porém, a literatura de ciência política costuma classificar
os partidos brasileiros de forma próxima a esta.

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