O voto como esperança
Muito recentemente tornou-se comum vermos surgir em profusão personagens que se arvoram em redentores do Brasil. São, muitas vezes, produtos baratos nascidos das crises como a que ultimamente nos vitima. Há de variadas espécies, de todas as matrizes ideológicas, e para estes há também entusiasmados seguidores. Desde o estilo boçal e que ganhou espaço em determinados extratos da sociedade, como o do verboso deputado Bolsonaro, e outros, os que defendem a volta dos militares (os próprios, ao que parece, correm da ideia) para o comando da nação. Há ainda os que enxergam como único problema do país a insegurança pública em que vivemos, para os quais a solução de tudo estaria na adoção da pena de morte para os delinquentes.
Descreve-se um amplo horizonte, ao qual ainda se incorporam os defensores do fechamento do Congresso, das Assembleias Legislativas e das Câmaras Municipais para economia dos recursos públicos que sustentam o funcionamento de tais Casas. Concorrem também os que entendem que o Poder Judiciário nada representa, num Brasil dependente de soluções mais rápidas; só mais rápidas, independentemente de sua qualidade. Que tragédia esta, a contaminação crescente e perigosa de significativa parte da sociedade pela ideia menor, superficial e mais à mão, num Brasil com os problemas que temos e num momento desses, carente de imaginação, grandeza e determinação. Carente mais ainda da seriedade e do compromisso de seus homens públicos, carente da concepção e consolidação da lei com a certeza de sua aplicação, carente de projetos que nos ofereçam caminhos seguros para a atual e as próximas gerações, hoje infelizmente entregues à absoluta incerteza, o que agrava especialmente a insegurança de nossa juventude, com as consequências que se extravasam na miséria, na ignorância e na criminalidade.
Há mais de um ano ouvimos a promessa de reformas que ajustem nossas reservas ao atendimento do que é responsabilidade indelegável do poder público; e recursos não há, porque a economia não reage e a arrecadação está cada vez mais escassa. Em paralelo, o Executivo, do presidente da República aos prefeitos, passando pelos governadores de Estado, em sua grande maioria, descumpre suas propostas orçamentárias para satisfazer acordos políticos, muitas vezes essenciais para eles se manterem em seus cargos. É assim com o presidente Temer, que irriga o Congresso com a promessa de atendimento de emendas parlamentares para, em primeiro lugar, frustrar a concessão da autorização constitucional essencial para que seja processado criminalmente pelo STF. O mesmo ocorre em todos os Estados da Federação, e Minas não é exceção; todos sabemos, tendo em vista a colcha de retalhos que é a formação do secretariado e a farta nomeação de cargos de confiança do governo Fernando Pimentel. Dois mil e dezessete está praticamente no fim e totalmente perdido. O próximo ano será dedicado às eleições. Nossos representantes da Presidência da República, do Congresso Nacional e das Assembleias Legislativas serão novamente eleitos por nosso voto. Se o que temos hoje é ruim, nós, eleitores, assim quisemos.
Delegamos sempre ao acaso, à ocorrência de algum milagre a solução do que desejamos e que nunca vem para salvar nossas demandas. Segundo Einstein, “insanidade é continuar fazendo sempre a mesma coisa e esperar resultados diferentes”. É questão de escolha o que se quer ser: insano, estúpido, indiferente, irresponsável com o próprio voto.
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