A Espanha possui 46 milhões de habitantes e recebeu no ano passado 75,3 milhões de turistas, atividade que corresponde a 11% de seu Produto Interno Bruto. O que atrai as pessoas àquele país, além, claro, de paisagens deslumbrantes, cidades lindíssimas, museus fantásticos, comida excelente, transporte público de qualidade, é justamente a segurança. A Espanha tem uma taxa de homicídio baixíssima, cerca de 0,7% por 100 mil habitantes, mesmo com um desemprego rondando os 18% da população economicamente ativa.
A OMS afirma que um dos principais impulsionadores das taxas de homicídio no mundo é o acesso às armas. Segundo a Ong Small Arms Survey, no Brasil existiam, em 2016, cerca de 15 milhões de armas nas mãos de civis, algo como oito para cada 100 mil habitantes, o que nos coloca em sétimo lugar no ranking mundial. Segundo a pesquisa, há mais armamentos em poder de civis do que nas mãos de agentes legais. (Sem alarde, o presidente não eleito, Michel Temer, assinou um decreto, no dia 9 de maio, afrouxando as exigências do Estatuto do Desarmamento para agradar a Bancada da Bala, que, aliás, tem entre seus membros de destaque o deputado federal Jair Bolsonaro, estrela ascendente do fascismo nacional).
Atentados terroristas são realizados por pessoas dementes, cegas pela intolerância religiosa ou ideológica, que atacam alvos civis de forma alheatória e inesperada. Embora diferentes em suas motivações, os militantes dos grupos radicais islâmicos e os delinquentes brasileiros possuem o mesmo perfil: jovens das periferias, humilhados e ressentidos, que não têm nenhuma esperança de serem absorvidos pela coletividade. Desprezados, tornam-se facilmente manipuláveis, já que nada têm a perder – ou, na lógica perversa da sociedade do espetáculo, têm é a ganhar, nem que seja um minuto de atenção, o que é o bastante para quem passa a vida na invisibilidade.
Devemos sempre nos indignar e condenar os atentados terroristas, pois são atos covardes de mentes autoritárias. Mas não podemos ficar indiferentes ao que ocorre à nossa volta. Vivemos acossados pela violência. Perdemos o direito de ir e vir e nos tornamos reféns da ansiedade – pior, substituímos a solidariedade pelo cinismo. Ao motorista do taxi com que abri esse artigo poderia informar: todos os dias, apenas na cidade do Rio de Janeiro, são assassinadas 15 pessoas – ou seja, temos um atentado de Barcelona por dia somente na chamada Cidade Maravilhosa. A morte de Arthur Cosme de Melo, o bebê baleado ainda na barriga da mãe, ganha assim um sentido de metáfora do que acontece no Brasil contemporâneo: estamos condenando nossa população à morte antes mesmo do nascimento.
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