O tema não consta da agenda política do país, não obstante versar sobre o bem maior da existência, que é ela própria. Nenhum tema pode se sobrepor ao da preservação física da população. E, no entanto, vários se sobrepõem. Basta consultar os discursos do Parlamento e as propostas de lei que lá tramitam.
Há uma guerra civil em curso, mas as tais instituições – que os políticos garantem estar funcionando – não a enxergam.
Dados do Mapa da Violência referentes a 2014 (os últimos atualizados daquela fonte) registram 59 mil e 627 pessoas assassinadas, contra 48 mil e 909 no ano anterior.
Dessa estatística, constam apenas os que morrem no local do crime. Os que morrem depois ou sofrem lesões graves não se incluem nessa contabilidade macabra. Não é tudo: os especialistas garantem que esses números estão ultrapassados, e que, em 2017, a violência está sendo bem maior que nos anos anteriores.
Basta ver o que vem ocorrendo no Rio de Janeiro com os transportes de carga, que levam alimentos, medicamentos e outros insumos essenciais à população. São 24 assaltos por dia. Em São Paulo, são dois por semana.
As empresas de transporte não querem mais fazer a rota da cidade e as seguradoras se recusam a continuar cobrindo o desfalque, sem falar nos motoristas que não querem mais se expor à violência, que já matou alguns colegas. No limite, isso levará ao desabastecimento da cidade que é a segunda em renda e população do país, além de seu cartão postal.
O narcotráfico é, de longe, a causa maior desse genocídio. Tomou os morros do Rio e a periferia dos grandes centros urbanos. Mas quem liga? A única providência do governo, não este, mas o anterior (embora este ignore o problema) foi desarmar a população.
Esta semana, um deputado estadual de Goiás, Major Araújo (PRB), teve uma ideia ainda mais brilhante: desarmar a polícia, “já que não é possível desarmar os criminosos”. Não é piada: são os termos do projeto de lei n° 787, de sua autoria, já em tramitação.
O Brasil, inicialmente corredor de exportação dos países que sediam os grandes cartéis de drogas - Bolívia e Colômbia -, tornou-se gradualmente grande consumidor; é hoje o segundo mercado mundial de cocaína (o primeiro são os EUA) e o primeiro de crack.
As Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), que, após acordo de paz com o governo local, se encaminham, seguindo conselho de Lula, para tornar-se um partido político, são os maiores fornecedores do planeta. A política não atrapalhará os negócios; continuarão a coexistir. Quem sabe, venham a eleger o próximo presidente da República. Como aqui, tudo é possível.
As Farc integraram na origem o Foro de São Paulo, entidade que congrega os partidos de esquerda do continente, fundado por Lula e Fidel Castro em 1990. Acaba de promover sua 23ª reunião na Nicarágua, onde pontificou a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, senadora e ré na Lava Jato. Solidarizou-se com o regime esquerdista de Nicolas Maduro, da Venezuela, que, como aqui, estaria sofrendo perseguição da elite local e do imperialismo yankee. Isso mesmo.
Ainda carecem de estudos os vínculos entre a ascensão esquerdista no continente e o comércio de drogas. Na Venezuela, por exemplo, presidiu a Assembleia Nacional, ao tempo de Chavez e até há pouco, um conhecido operador do ramo, Diosdado Cabello.
No Brasil, Dilma Roussef, ao tempo em que chefiava a Casa Civil, no governo Lula, nomeou Ângela Maria Slongo, mulher de um chefão das Farc, Olivério Medina, como oficial de gabinete, em 2006. Medina, na ocasião, estava preso no Brasil. Foi solto logo depois. E revelou ter oferecido dinheiro das Farc a candidatos do PT.
Nada disso foi até aqui investigado. E é improvável que o seja.
Para que se tenha uma ideia do poder financeiro do narcotráfico, basta dizer que movimenta algo em torno de 1,5% do PIB mundial - 870 bilhões de dólares, segundo o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (Unodc).
Esse comércio, segundo essa fonte, movimenta 40% das demais frentes de negócios do crime organizado no mundo, como tráfico de armas, de pessoas e lavagem de dinheiro, num total anual de US$ 2,1 trilhões, ou 3,6% do PIB global.
O Brasil está no coração dessa tragédia, e as instituições (“que estão funcionando”) fingem que não veem. O Foro de São Paulo, fiquem tranquilos, garante que a revolução ainda não começou.
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