O jornalismo político – do qual sou mero leitor – cunhou uma expressão deliciosa: “flores do recesso”. Os repórteres referiam-se a balões de ensaio, especulações, possibilidades, promessas, tudo o que, com o Legislativo parado, se urdia, se tramava, se plantava. Ao menos o noticiário ficava agitado, neste país onde o Parlamento sempre teve muito peso.
Agora, a nossa decrepitude partidária é tão grande que não se pode esperar florescer nada após esse pequeno recesso de julho. Ao contrário, o que se percebe são articulações da casta política com um objetivo central: sobreviver. Colocar na gaveta as graves denúncias que pesam sobre todos as grandes e médias legendas e tocar a vida, pois “não se pode acabar com a política”. No fundo, têm a convicção dogmática do “fora de nós não há salvação”.
Então, em vez de flores, esse recesso nos legará, já nos primeiros dias de agosto, frutos podres, imprestáveis. A árvore frondosa chamada “reforma política”, sem participação popular e sem envolvimento da cidadania, é como se não tivesse raízes e seiva. Mas em seus galhos tentarão enxertar absurdos como o tal “distritão”, que prefiro chamar de “detritão”.
É a lei do “cada um por si”, da classificação “vestibulesca” dos candidatos em cada estado, do desprezo ao coletivo das legendas, da ideia de partido. Como diz o cientista político Sérgio Abranches, “eleger os mais votados parece fazer sentido. Mas, na verdade, favorece os que têm acesso a bolsões eleitorais controlados de forma clientelista”. Na Câmara dos Deputados, se esse “distritão” vigorar, serão 513 partidos do “eu sozinho”. E quase todos os que tentarem a reeleição, por serem mais conhecidos, terão êxito, estando ou não acusado de corrupção.
Outra aberração é o Fundo Especial de Financiamento da Democracia. Sob esse nome pomposo, o FFD (a sigla já não soa pomposa assim...) abocanhará R$ 3,6 bilhões dos cofres públicos para pagar a campanha do ano que vem. Um terço dessa generosa soma irá para o PMDB, o PT e o PSDB. O Fundo Partidário em vigor não será extinto e sequer tocado. Como se vê, o “teto de gastos”, que afeta os serviços públicos e, consequentemente, a população, não chega ao mundo da política dominante.
Por fim, o que se quer com a “cláusula de barreira” não é propriamente barrar a proliferação de siglas sem conteúdo, sem programas, sem ideologia. Busca-se fazer com que no cenário político brasileiro haja um “enxugamento” vertical e sobrem apenas 11 partidos já constituídos, com suas mazelas e inautenticidades. Essa decantação – necessária, sem dúvida – já viria com o fim das coligações nas eleições proporcionais. Mas é preciso restringir para garantir o mando dos que já mandam.
Enquanto isso, o governo que prometera não aumentar impostos acaba de fazê-lo, nos combustíveis, o que já está incidindo no custo de vida. E, na contramão da sua falsa “austeridade”, liberou, em emendas parlamentares e obras para “atender suas bases”, R$ 15,3 bilhões de reais, em 15 dias. Tudo para não ter o pedido de investigação de Sua Excelência, o presidente, aprovado na CCJ. A matéria vai ao plenário no fim do recesso e as torneiras novamente se abrirão.
Após o recesso, o que se anuncia é mais retrocesso. Só que vai ter reação.
Agora, a nossa decrepitude partidária é tão grande que não se pode esperar florescer nada após esse pequeno recesso de julho. Ao contrário, o que se percebe são articulações da casta política com um objetivo central: sobreviver. Colocar na gaveta as graves denúncias que pesam sobre todos as grandes e médias legendas e tocar a vida, pois “não se pode acabar com a política”. No fundo, têm a convicção dogmática do “fora de nós não há salvação”.
Então, em vez de flores, esse recesso nos legará, já nos primeiros dias de agosto, frutos podres, imprestáveis. A árvore frondosa chamada “reforma política”, sem participação popular e sem envolvimento da cidadania, é como se não tivesse raízes e seiva. Mas em seus galhos tentarão enxertar absurdos como o tal “distritão”, que prefiro chamar de “detritão”.
É a lei do “cada um por si”, da classificação “vestibulesca” dos candidatos em cada estado, do desprezo ao coletivo das legendas, da ideia de partido. Como diz o cientista político Sérgio Abranches, “eleger os mais votados parece fazer sentido. Mas, na verdade, favorece os que têm acesso a bolsões eleitorais controlados de forma clientelista”. Na Câmara dos Deputados, se esse “distritão” vigorar, serão 513 partidos do “eu sozinho”. E quase todos os que tentarem a reeleição, por serem mais conhecidos, terão êxito, estando ou não acusado de corrupção.
Outra aberração é o Fundo Especial de Financiamento da Democracia. Sob esse nome pomposo, o FFD (a sigla já não soa pomposa assim...) abocanhará R$ 3,6 bilhões dos cofres públicos para pagar a campanha do ano que vem. Um terço dessa generosa soma irá para o PMDB, o PT e o PSDB. O Fundo Partidário em vigor não será extinto e sequer tocado. Como se vê, o “teto de gastos”, que afeta os serviços públicos e, consequentemente, a população, não chega ao mundo da política dominante.
Por fim, o que se quer com a “cláusula de barreira” não é propriamente barrar a proliferação de siglas sem conteúdo, sem programas, sem ideologia. Busca-se fazer com que no cenário político brasileiro haja um “enxugamento” vertical e sobrem apenas 11 partidos já constituídos, com suas mazelas e inautenticidades. Essa decantação – necessária, sem dúvida – já viria com o fim das coligações nas eleições proporcionais. Mas é preciso restringir para garantir o mando dos que já mandam.
Enquanto isso, o governo que prometera não aumentar impostos acaba de fazê-lo, nos combustíveis, o que já está incidindo no custo de vida. E, na contramão da sua falsa “austeridade”, liberou, em emendas parlamentares e obras para “atender suas bases”, R$ 15,3 bilhões de reais, em 15 dias. Tudo para não ter o pedido de investigação de Sua Excelência, o presidente, aprovado na CCJ. A matéria vai ao plenário no fim do recesso e as torneiras novamente se abrirão.
Após o recesso, o que se anuncia é mais retrocesso. Só que vai ter reação.
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