Sabemos que as políticas proativas em matéria de água são fundamentais para garantir a paz e a segurança e que o saneamento é essencial para a promoção da dignidade humana. A água e o saneamento são essenciais para atingir muitos dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) definidos pela Organização das Nações Unidas (ONU) destinados a erradicar a pobreza, a fome e a promover a educação, a saúde e a igualdade de gênero. Por exemplo, metade dos atrasos no crescimento das crianças, que impactam a longo prazo o desenvolvimento mental e físico desses indivíduos, são relacionados a um saneamento deficitário.
No entanto, não obstante a todos esses fatores, é raro a água, e muito menos o saneamento, serem uma prioridade no limitado financiamento disponível para as políticas de desenvolvimento.
As metas do ODS 6, dedicado à água e ao saneamento, exigem acesso a serviços de qualidade para todas as pessoas de todos os países, priorizando as necessidades das mulheres, das crianças e das pessoas vulneráveis. Alcançar a universalidade no acesso à água e ao saneamento exigirá um esforço global ao qual nenhum país poderá se eximir.
Há pessoas desfavorecidas em todas as sociedades, em todos os países - sejam eles ricos ou pobres. Nos países desenvolvidos ainda há pessoas - aquelas que vivem na rua, em comunidades nômades, os requerentes de asilo, entre outras- que nem sempre têm acesso à água potável e a banheiros limpos. Em muitos países em desenvolvimento, as pessoas que vivem na pobreza, as pessoas com deficiência, as pessoas que vivem em áreas rurais remotas ou em bairros informais não têm água e banheiros seguros e acessíveis.
Assegurar que todos tenham acesso a serviços básicos exigirá mais do que um simples aumento no financiamento. Devemos olhar para além dos argumentos econômicos como a "rentabilidade" ou as "economias de escala" para reconhecer os verdadeiros custos para o desenvolvimento humano sempre que deixamos pessoas para trás. Devemos repensar a forma como os orçamentos são concebidos: como devemos dar prioridade a certos grupos específicos da população e como direcionar os serviços, a fim de eliminar as desigualdades no acesso à água e ao saneamento.
Precisamos talvez deixar de lado os projetos de infraestrutura em grande escala, que constituem atualmente um elemento básico de desenvolvimento, para encontrar soluções mais locais. Os recursos financeiros podem ser mais bem gastos na formação ao nível local, na formação de profissionais de saúde e de trabalhadores comunitários junto das populações locais. Deve ser investido mais dinheiro nas ações de operação e manutenção, para garantir que os sistemas existentes continuem a fornecer os serviços essenciais.
Devemos deixar de lado a noção dos retornos econômicos rápidos sobre os investimentos. O custo de não ser capaz de educar as crianças, de não ter uma população saudável ou de uma força de trabalho improdutiva, supera amplamente o custo de garantir o acesso aos serviços. Devemos fazer tudo possível para investir na saúde a longo prazo e no desenvolvimento do nosso planeta.
Com o objetivo de discutir e de repensar o financiamento do setor de água e saneamento, a parceria global Saneamento e Água para Todos organizará duas Reuniões de Alto Nível em Washington DC, EUA, nos dia 19 e 20 de Abril – uma de Ministros das Finanças e outra de Ministros responsáveis por água e saneamento. Essas reuniões irão explorar como tornar as estratégias de financiamento existentes mais eficazes, mais eficientes e mais propensas a diminuir, em vez de ampliar, o fosso das desigualdades.
Catarina de Albuquerque
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