segunda-feira, 29 de maio de 2017

Futuro certo

Não é verdade que nosso passado seja incerto. Desconhecido, talvez. Falso, provavelmente. Fraudulento, certamente. Um país que acha que foi descoberto por acidente, não se pode mesmo levar a sério.

Desde a chegada das caravelas, a gente vem se auto enganando. A começar pelos elogios de Caminha. O Brasil foi se vendo, inventando e contando sua história como se tudo o que aconteceu e que acontecer seja sempre uma consequência das circunstancias.


Nossa história não é soma de mentiras combinadas. É simplesmente uma sucessão de fraudes. As vezes paralelas. As vezes interligadas. Não importa. Sempre fraudes. E a gente se acostumou com elas. Tanto que não mais as reconhecemos. Nem mesmo em face de suas consequências.

Já usamos crimes passionais como desculpa para golpe. Já chamamos revolução de golpe. E as vezes chamamos a aplicação da constituição de golpe. Vai entender. A gente sempre está a tentar distorcer os eventos de maneira a se encaixarem em narrativas incoerentes, ilógicas, e, acima de tudo, inúteis.

E a vida segue. Mesmo com cenário desolador. Grandes sucessos empresariais frequentemente são resultado de fraudes. Nada mais. Campeões nacionais são construídos azeitando relações privilegiada com o Estado, e tendo como combustível a mistura toxica da flexibilidade moral com o acesso fácil a bolsa da viúva. Apenas para entrar em colapso na areia movediça da fraude.

Alardeamos nossa capacidade analítica. Passamos a vida elogiando corpos técnicos autoproclamados competentes. Mas incapazes de identificar a existência do nada por trás das ações, dos investimentos, e das estratégias, públicas e privadas. No frigir dos ovo, apenas um punhado de corporações incapazes de ou desinteressadas em proteger os interesses de acionistas, pagadores de impostos e cidadãos.

O passado, portanto, não é incerto. Apenas fraudulento. O presente, dramático. E o futuro, lamentavelmente trágico. Resultado natural de um amontoado de fraudes.

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