Não pensem que esse tipo de reação é rara. Perguntem aos advogados. O processo começa, tramita, vai, volta, entre audiências, recursos, intimações e tudo mais, produzindo, enquanto dura, “uma divergência legal relativa ao que foi exposto”. Até que a Justiça se coce, no ritmo que conhecemos, o processo se arrasta indefinidamente, embolando fios e postergando resultados. O tempo, claro, joga a favor de quem tem culpa.
Essa ficção se aplica à realidade momentânea de Michel Temer. No discurso em que descartou renunciar, ele jogou todas as fichas no álibi do “vestido verde”. De fato, a qualidade da gravação da conversa que teve com Joesley Batista, no Palácio do Jaburu, tem vários pontos inaudíveis e não permite confirmar alguns trechos letais do diálogo inicialmente divulgado em “O Globo” pelo colunista Lauro Jardim.
E estes, por si só, são suficientes para incinerar qualquer político, inclusive chefes de Estado. Por exemplo: por que Temer recebeu à noite, em casa, sozinho, um empresário alvo de oito processos por corrupção? Por que liberou-o de registrar o nome na portaria do Palácio? Por que não lhe deu voz de prisão quando ouviu-o confessar que estava pagando suborno a um procurador da Lava Jato e a dois juízes? Por que lhe recomendou procurar, para resolver problemas junto a órgãos públicos, um deputado de sua confiança que, na sequência, seria filmado recebendo malas de dinheiro?
A rigor, são irrelevantes os hiatos da gravação nos quais o presidente se entrincheirou. Ainda que não se confirme seu aval explícito à compra do silêncio de Eduardo Cunha pelo dono da JBS, o que está aí, claro e límpido, é barulho bastante para fulminá-lo.
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