A internet tirou-a da condição de ente abstrato e conferiu-lhe protagonismo. No passado, as crises eram resolvidas (ou não) à revelia do público, que mal sabia o nome dos que o governavam.
Hoje, em plena Era da Informação, conhece-se melhor o perfil dos onze ministros do STF que o dos craques da Seleção Brasileira. E os atos dos agentes públicos, antes mesmo que a mídia convencional deles se ocupe, já se submetem ao crivo das redes sociais.
A voz digital das ruas descobre seu poder e sacode a torre de marfim de Brasília, que procura se ajustar aos novos tempos. Um vídeo no Facebook repercute mais que um discurso da tribuna da Câmara ou do Senado. A política e os políticos descobriram isso – e invadiram as redes. A plateia, porém, mantém-se crítica.
O ministro Edson Fachin, do STF, diante da repercussão negativa da soltura de José Dirceu, optou por encaminhar o pedido de habeas corpus de Antonio Palocci ao plenário – e não mais à segunda turma. Fará o mesmo com os de Eduardo Cunha, João Vaccari e Marcelo Odebrecht. Quer compartilhar as vaias.
O ministro Gilmar Mendes ainda desafia o fenômeno: no julgamento que livrou José Dirceu da prisão preventiva, avisou que o STF não tolera e não pode se curvar a pressões. Mas as pressões prosseguem e geram atitudes mais cuidadosas como a de Fachin.
As redes servem também para que os magistrados duelem indiretamente. O trio da segunda turma do STF que votou pró-Dirceu – Gilmar Mendes, Dias Toffoli e Lewandowski – criticou o que chamou de abuso da prisão cautelar, atribuído a Sérgio Moro.
Este, por sua vez, sem se dirigir a eles, mas ao imenso público das redes, retrucou: “Excepcional não é a prisão cautelar, mas o grau de deterioração da coisa pública revelada”.
O público pró-Moro dá de goleada no do Supremo – e não só nele, mas em qualquer outro que o desafie. É de lá que provém o combustível que abastece a Lava Jato, que sabe tirar partido dessa receptividade. O PT investe pesadamente nas redes, mas fala apenas à própria militância. Provoca mais vaias que aplausos.
É mesmo assim o partido que primeiro investiu na rede e o que a ocupa de maneira mais planejada. Foca neste momento no depoimento de Lula a Sérgio Moro, no próximo dia 10, em Curitiba; quer arrebanhar adeptos para ocupar a cidade e constranger Moro e os procuradores. Já conseguiu criar um ambiente prévio de tensão.
Lula continua sendo apresentado como perseguido político, mesmo não o sendo; é acusado de delitos capitulados no Código Penal, à frente, segundo a Lava Jato, do maior assalto já havido contra o erário. Esse duelo entre acusação e defesa está prestes a migrar do virtual para o real, o que impõe complicadas medidas de segurança e logística. A primeira, a pedido da Polícia Federal, foi adiar o próprio depoimento, que deveria ter ocorrido ontem.
Teme-se que Curitiba vire praça de guerra, e a defesa de Lula investe nesse temor. Acredita que, dessa forma, esvaziará o depoimento, intimidará os inquiridores e fortalecerá a imagem do perseguido político. Faltou combinar com o outro lado.
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