O ministro da Agricultura, Blairo Maggi, exonerou os superintendentes de Agricultura, Pecuária e Abastecimento no Paraná e em Goiás, um indicado pelo PP, outro pelo PTB. O escândalo pode ter ficado restrito a esses 2 Estados, mas em outros 17 as superintendências continuam nas mãos de pessoas apontadas por partidos políticos. Antes das demissões, 10 eram controladas pelo PMDB, 5 pelo PP, 2 pelo PSDB, 1 pelo PR e 1 pelo PTB.
O ministro pretende, segundo se informou em Brasília na terça-feira, mudar todo o esquema a partir de maio, reservando a pessoal de carreira o posto de superintendente.
Esse conjunto de regras pode favorecer consideravelmente a profissionalização do serviço público. No mínimo, os governantes e seus auxiliares de primeiro escalão terão restrições para preencher postos importantes das estatais e, provavelmente, da administração direta. Essa mudança é especialmente importante no Brasil, por causa do enorme número de postos de confiança. Na maior parte das democracias liberais, o número desses postos é inferior a 10 mil. Na administração federal brasileira há poucos anos havia cerca de 22 mil cargos de livre provimento, alguns preenchidos com pessoal de carreira, muitos com pessoal de fora. O critério político-partidário foi comum à maior parte dos casos. Com frequência, o preenchimento de postos decorreu das alianças partidárias. Foi um dos custos impostos ao País pelo presidencialismo de coalizão.
Alguns dos piores efeitos foram evidenciados em escândalos nas maiores estatais. A Operação Lava Jato chamou a atenção principalmente para a corrupção na Petrobrás, a maior companhia brasileira de capital misto, mas a ocupação predatória tem sido rotineira tanto nas empresas controladas pelo Tesouro Nacional como na administração direta.
Mas convém evitar ilusões. Mesmo com exigências de formação técnica e de experiência, a nova lei deixa espaço para escolhas baseadas em acordos políticos. Tanto as nomeações para as estatais como as seleções de chefes para a administração direta continuam sujeitas ao risco da influência partidária. O filtro poderá ser mais fino, mas o interesse político-partidário ainda poderá prevalecer. O risco só será eliminado, ou muito reduzido, se a livre nomeação ficar limitada a pouquíssimos postos e se a influência partidária for limitada, como deve ser, à linha de governo. Não cabe a chefes de partidos cuidar de contratos da Petrobrás nem de fiscalização de alimentos. Essa regra é essencial para a consolidação da democracia brasileira.
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