Nenhum cidadão no mundo recebe mais informações jurídicas do que o brasileiro. Um visitante estrangeiro estranha que o noticiário fale mais sobre inquéritos, denúncias e ações penais do que sobre futebol. A maioria entende de leis apenas o suficiente para saber precisaria entender muito mais.
Entretanto, as transmissões da TV Justiça desenvolveram na plateia habilidades que permitem diferenciar certos magistrados dos magistrados certos. O que tornava Teori especial aos olhos leigos era o estilo de zagueiro de time de várzea, não o notório saber jurídico.
O relator morto da Lava Jato sabia como demarcar o seu território na grande área de um processo. Cara amarrada, mirava a canela já na primeira entrada. Com dois trancos, arrancou Eduardo Cunha da presidência da Câmara e do exercício do mandato. Abriu o caminho para a cassação e a prisão. Com outro tranco, empurrou gente como Lula para dentro do “quadrilhão”, como os investigadores chamam o inquérito-mãe da Lava Jato.
Não são negligenciáveis as chances de que o novo relator saia da Sugunda Turma do Supremo, onde tramita a Lava Jato. Com a morte de Teori, restaram nesse colegiado: Celso de Mello, Gilmar Mendes, Dias Tofoli e Ricardo Lewandowski. Responda rápido: você levaria a mão ao fogo por todos eles?
Em geral, essa gente leiga que conhece o seu valor costuma achar inacreditável que jogadores remunerados pelo teto do serviço public, tratados com todo o pão de ló que o dinheiro público pode pagar, não consiga prevalecer sobre o time dos corruptos de goleada.
O pedaço mais esclarecido da arquibancada raciocina assim: eu, com o mesmo salário e igual tratamento, ficaria envergonhado se não pintasse duas ou três capelas sistinas por mês.
Quer dizer: ou o Supremo Tribunal Federal acomoda na relatoria da Lava Jato um ministro com a disposição de um zagueiro e o talent de um Michelangelo ou vai jogar no ralo todo o prestígio que amealhou no julgamento do mensalão.
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