Abandono da escola e a imersão no crime
A educação nunca foi prioridade no Brasil. O colonizador português restringia a abertura de escolas porque considerava povo instruído um risco a seu domínio. Essa postura foi mantida, após a Independência, sem manifestações explícitas porque era importante camuflar as estratégias de preservação das formas mais iníquas de subordinação de alguns em benefício da classe dominante. Assim, desde a Constituição de 1824, prescreve-se a obrigatoriedade do ensino básico para todas as crianças, mas os investimentos estiveram sempre aquém das necessidades, e nunca há (...) um discurso consistente quanto à relevância da escolarização universal para integração plena de cada cidadão ao mundo moderno. Muitas famílias exigem que os filhos façam curso superior, mas financiam fraudes para que eles se deem bem nas avaliações, sem se preocuparem com os índices de aprendizagem, desde que a diplomação esteja garantida. Surgem, então, mensagens subliminares, depreciando a educação como caminho consistente para a qualificação profissional.
Nas classes subalternas, isso se torna mais dramático, contribuindo para a marginalização dos jovens desses segmentos, porque há mais obstáculos para frequentar a escola e eles não têm experiências compatíveis para a imersão no universo das letras, da ciência e das artes. Seu cotidiano é sempre repleto de dificuldades, que incluem trabalho desde a infância, carência material, desnutrição e deslocamento para o colégio, no campo ou na cidade grande.
O baixo prestígio da educação tem condicionado a péssima rede de ensino, que inclui a precariedade da infraestrutura e o corpo docente desmotivado. As atividades são, então, pouco atraentes, desestimulando os pais a exigir dos filhos dedicação aos estudos, enquanto os imaturos não reconhecem a relevância da instrução para sua vida. Tudo soa como um mundo indecifrável e sem aplicabilidade em seu cotidiano miserável. Logo, as crianças perdem o interesse nas aulas em instituições públicas, interrompendo a formação que lhes garantiria a participação efetiva na sociedade urbano-industrial. Procuram, então, trabalho para ganhar seu sustento, mas encontram apenas atribuições inferiores; portanto, malremuneradas. Ficam, ao mesmo tempo, acessíveis ao recrutamento por gangues que instalaram o terror no país. Elas assumem, primeiro, funções auxiliares, mas vão, em seguida, para as mais complexas, sempre expostas à violência como agentes ou alvos.
As rebeliões nos presídios vêm escancarando a superlotação e a demanda crescente por vagas. Isso mostra que a raiz do problema é a marginalização das novas gerações porque não frequentaram a escola ou não se adaptaram às atividades e aos objetivos de qualificação profissional, que as levariam à inserção no mercado de trabalho. A irresponsabilidade dos governantes em manter uma rede escolar insuficiente, ineficiente e descomprometida com o futuro dos brasileirinhos está, portanto, escancarada. Resta saber até quando.
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