Por isso (e provavelmente por muitas outras razoes), a gente está sempre a buscar heróis. Como se houvesse um vazio no coração que somente pudesse ser preenchido por um salvador.
Já escolhemos de todos os tipos. De todas as profissões. Pregando todo tipo de ideia ou valores. Ou mesmo sua ausência.
Já depositamos todas as esperanças em quem foi sem nunca ter sido. Morreu antes de começar. E deixou o país órfão de esperança. Chorando seu desespero em frente ao hospital.
Já elegemos salvadores heróis. Autoproclamado corajoso caçador de marajás. Prometia muito. De tudo. E muito de tudo. Deixou o país roxo de raiva. Saiu pela porta dos fundos da historia. E voltou, como farsa de si mesmo. Lembrança viva de enganos e engodos.
Já admiramos campeões. Vibramos como sócios de seu sucesso em cada um dos pódios. Choramos sua perda. Nomeamos estradas em seu nome. Fizemos homenagens. Muitas. Ficamos sós. Tristes. Devastados. E sem heróis.
Já apostamos em operários. Com esperança. Sem medo. Ia mudar tudo. Como nunca antes neste país. E nos decepcionamos. Assistimos incrédula a parada interminável de malfeitos. Custou caro. E deu em muito medo. E pouca esperança.
Já elegemos muitos heróis. E já nos decepcionamos bastante. E continuamos a ver e procurar salvadores. Alguém que nos redima. Ser superior. Digno. Herói, enfim.
É compreensível. A vida sem eles é mais difícil. Depende da impessoalidade das instituições. De sua eficiência. De sua eficácia. E, claro, de sua credibilidade.
Demanda décadas de intenso esforço e determinação no aperfeiçoamento das instituições. E compromisso com sua preservação e manutenção. Somente assim é possível não depender de indivíduos.
Somente instituições fortes criam condições para a substituição de indivíduos com o mínimo de trauma para a sociedade. Por outro lado, instituições fracas levam a sociedade a depender de indivíduos.
Países com instituições fracas procuram heróis. Personagens improváveis que trariam quase magicamente as soluções para todas as questões que a sociedade, coletivamente, fracassou em encontrar resolver.
Diante da falta de instituições, da ausência total de credibilidade no Estado, o país busca heróis. Desesperadamente. E lamenta sua ausência. E não os encontra. Talvez porque heróis não existam no mundo real.
Pobre do país que precisa de heróis.
Nenhum comentário:
Postar um comentário