segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Favela rica, favela pobre: desigualdades nas baixas rendas de São Paulo

As favelas de São Paulo apresentam situações bastante diversas. Enquanto algumas delas possuem indicadores de acesso a água encanada, esgoto e coleta de lixo praticamente universalizadas, em outras a situação é similar a de Melgaço, no Pará, que possui o pior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Brasil. Os dados fazem parte de um estudo obtido pelo EL PAÍS feito durante o ano passado pelo Centro de Estudos da Metrópole, ligado à Universidade de São Paulo (USP), em parceria com a Prefeitura de São Paulo, para orientar as políticas de habitação da cidade.

A pesquisa sobrepôs as cartografias das habitações precárias da Secretaria Municipal de Habitação aos dados do Censo de 2010, o último levantamento com informações detalhadas da infraestrutura da cidade. Com isso, foi possível dividir as favelas em cinco agrupamentos distintos. O primeiro deles, de melhor situação, é representado por 1045 favelas das 2096 favelas da cidade (49,6%): são elas as que têm acesso quase universal água, esgoto sanitário e coleta de lixo por serviço de limpeza. Já, na outra ponta, existem 84 favelas com a pior situação: apenas 35,6% têm acesso à água, 9,9% a esgoto e 45% à coleta de lixo. O estudo já havia sido feito em 2003 com dados do Censo de 2000 e foi possível verificar que, neste período, a desigualdade entre as favelas aumentou, explica o coordenador da pesquisa Eduardo Marques, professor de ciências políticas da USP. No entanto, como os dados são de 2010, eles não medem as possíveis melhorias ocorridas durante as gestões de Gilberto Kassab (2006 a 2012) e de Fernando Haddad (2013 a 2016).

Imagem relacionada

"Pudemos perceber que o processo de favelização continua acontecendo. Continua havendo um crescimento da população favelada e dos domicílios em favela em um ritmo superior ao da população geral do município. Mas, apesar de ser maior, esse crescimento é baixo. Não há um processo intenso de favelização", ressalta Marques. "As características sociais médias das favelas continuaram melhorando bastante, não tem piora. E como elas eram muito piores do que no resto da cidade, elas melhoraram num ritmo muito melhor do que o conjunto da cidade. Mas a pesquisa também indica a existência de um conjunto de favelas e loteamentos com características muito precárias. Por isso, a desigualdade entre as favelas aumenta. Não porque tenha favelas que pioraram de situação, mas porque a maioria das favelas fica melhor. Porém, continua havendo um conjunto delas com uma situação ruim", explica ele. 

O pesquisador afirma que não está claro o que faz com que essas favelas sejam piores, já que os cinco agrupamentos estão espalhados pela cidade de forma igualitária. Ou seja, nas franjas da cidade é possível achar tanto favelas do melhor grupo quanto do pior. "A dimensão geográfica não é a que explica. Pode ser que as favelas em piores condições sejam mais frequentemente em terrenos privados, que é uma informação que a gente não tem. Estar em área privada dificulta a colocação de infraestrutura por parte do poder público. Tem uma associação entre a precariedade das favelas e tempo. Elas [em pior situação] tendem a ser um pouco mais recentes. Mas não são só favelas mais recentes. Tem favelas menores. O poder público tende a centrar energia nas de maior porte", ressalta o professor. "Tudo isso aponta para a necessidade da continuidade das políticas de urbanização de favelas no município. Não se sabe como o novo governo municipal vai tratar essa questão, mas é imperativo que programas de urbanização de favelas venham a ser executados porque mesmo as favelas em melhores condições estão longe ainda de serem equiparadas às populações dos outros bairros. A grande maioria delas ainda tem condições piores do que o resto da cidade", ressalta Marques.

Nenhum comentário:

Postar um comentário