Os braços postiços seriam os iluminados de sempre: os que têm o domínio do conhecimento, a experiência e o aplomb necessários. É uma versão remixada da velha fé na tecnocracia. Ironicamente, o motivo por trás da tentativa de amputação do poder de Temer e do PMDB é que os tecnocratas deles - Henrique Meirelles na Fazenda, e Ilan Goldfajn no Banco Central - não estariam "performando".
O que garante que outros tecnocratas teriam melhor performance? Que conseguiriam promover a retomada da economia? Nada.
Como os políticos sabem mas muitos preferem esquecer ou nunca souberam, não há saída menos ruim fora da política. Só piores, como as ditaduras civl e militar, a monarquia ou a teocracia. A maneira menos pior de fazer política é a democracia eleitoral, na qual os representados elegem representantes pelo voto e, de tempos em tempos, os trocam para que os eleitos não virem ditadores, monarcas ou comecem a pensar que são deuses.
Angel Boligan |
Todos foram eleitos, diretamente ou por tabela. Todos erraram muito, e alguns tiveram acertos: estabilizaram a economia, distribuíram renda, diminuíram a fome. Todos precisaram negociar com um Congresso cada vez mais caleidoscópico e fisiológico. Ao alimentarem a prática, viciaram o círculo, que se avolumou a cada legislatura, até levar um presidente da Câmara para a cadeia, e a presidente da República para fora do palácio.
A grande maioria dos brasileiros não viveu a ditadura. Quando muito, conheceu-a pelos livros. Mas essa mesma maioria viveu todas as crises e fracassos da democracia. Viu a volta da inflação e do desemprego, perdeu renda. Viu todas as prisões de corruptos que não poderia ver na ditadura. Soube de todos os escândalos que nunca poderia saber sob censura. Viu o Ministério Público atuar e juízes sentenciarem poderosos. Acha que tudo isso é dado. Passou a achar que tudo é culpa só dos políticos.
Quem acredita que o problema é exclusivamente dos representantes, que os representados não têm nada a ver com isso, deveria ser a favor do modelo mais puro de democracia: o sorteio. Afinal, a aleatoriedade total dispensaria os partidos, as campanhas eleitorais e até a eleição. Os nomes ficariam à mercê da sorte, mas a probabilidade garante que a representatividade da população seria absoluta e completa.
Obrigatoriamente, haveria mais mulheres do que homens no Congresso e no governo. Mais pardos e pretos do que brancos. Mais homossexuais, mais portadores de necessidades especiais. Mais gente com ensino fundamental do que com diploma de faculdade. Mais pedreiros e menos advogados. Mais pobres do que ricos. Muito mais pobres do que ricos. Seria uma revolução.
Daí não empolgar. Representatividade sim, mas a minha primeiro.
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