terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Os nove círculos do inferno político

A leitura da Divina Comédia, do genial Dante Alighieri é, antes de mais nada, um processo de auto-avaliação, conforme as páginas vão passando e as construções mentais são realizadas. Quando se atinge o estágio de análise dos nove círculos do inferno, antes do destino final e eterno, não há como não aplicar no nosso sistema político uma metáfora tirada livro.

O nosso universo político possibilita, infelizmente, que um indivíduo, eleito pelo poder sagrado do voto, resvale pelos círculos do pecado político, até atingir o último estágio: o da aniquilação.

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Primeiro círculo: Irrelevância

Uma infinidade de políticos brasileiros se encontra nesse primeiro círculo do inferno. Suas irrelevâncias como políticos – prefeitos, vereadores, deputados, senadores – é visível, com impacto trágico na nossa sociedade. A irrelevância deles aniquila as chances de o país atingir o ponto em que deveríamos nos encontrar.

Segundo círculo: Ignorância

A ignorância de inúmeros parlamentares diante de temas elementares os leva a tomar decisões rápidas, mas capazes de definir os rumos do Brasil, com base em achismos e impressões. No entanto, a pior forma de ignorância parte daqueles que se consideram donos de uma determinada visão de mundo, e, justamente por isso, se recusam a tentar compreender campos opostos. Seria melhor que fossem irrelevantes do que ignorantes. Um ignorante pode sempre causar mais danos.

Terceiro círculo: Fome de poder

Quando a fome de poder se torna o principal objetivo de um político, ele passa a perseguir metas baseadas na sua noção de moral e (flexibilidades) ética. O poder torna-se a busca e o fim, e por isso não há fator externo que impeça um político de mirar esse objetivo. Todos os temas nacionais, regionais ou locais passam a ser apenas veículos para atingir objetivos. Eis um jogo pessoal de um mero colecionador de poder.

Quarto círculo: Cobiça

Pior do que a busca incessante pelo acúmulo do poder, é a busca incessante por bens materiais. Enquanto outro se satisfaz com algo abstrato, este quer a pobreza do material, o roubo, o acúmulo de ouro, taças de prata e colares. A cobiça cega mais que a busca pelo poder. No Brasil, pode-se identificar facilmente os que se corromperam com pouco, atraindo a Justiça para sua porta, consequência do simples acúmulo. Esse tipo de político geralmente se entrega aos prazeres da facilidade na obtenção de vantagens e, consequentemente, recursos, caindo na vala comum do batedor de carteiras.

Quinto círculo: Ódio

Os episódios políticos deste ano geraram ondas de ódio que beiraram o absurdo. Compreendem-se as reações apaixonadas e exageradas de cidadãos pró e anti-governo. No entanto, esse ódio baseado em explicações rasas jamais poderiam ter invadido o universo parlamentar. São ridículas as promessas de deputados de deixar o país caso o impeachment ocorresse, cusparadas em adversários e congratulações a torturadores do passado. O ódio geralmente é infantil e baseado na falta de argumentos.

Sexto círculo: Mentira

A mentira política no Brasil desviar completamente a rota que o país estava seguindo. Hábito comum em campanhas eleitorais, já seria suficiente para catapultar quase todos para o sexto círculo do inferno político. Estamos expostos a todo tipo de mentiras. Mentiras de natureza inocente, ludibriadora e maldosa. Mentiras que desviam do real estado da economia para poder ganhar uma eleição, mentiras com a câmera em close up para transmitir credibilidade. A profissionalização da mentira estimulou a população a não só tolerá-la, mas quase a desejá-la em épocas de eleições. A mentira política chegou ao auge, extrapolou e está tirando a sociedade da hipnose. Enquanto isso, as famosas delações premiadas chegaram para mostrar que mentiras repetidas infinitamente continuam sendo mentiras.

Sétimo círculo: Egoísmo


O egoísmo na política é muito pior do que fora dela. Principalmente quando vem de grandes nomes, nomes quase mitológicos no universo político. Quando o “eu" se torna maior que o país, quando uma decisão contrária aos seus “põe o país de cabeça para baixo”, é que percebemos o potencial destruidor do egoísmo de grandes nomes políticos. Esse “eu” está presente na Coréia do Norte de Kim Jong-um, na União Soviética de Stalin, na Cuba de Fidel Castro e na Venezuela de Maduro. O egoísmo na política obriga a todos que admiram o egoísta a trocar a lealdade para com um país, um povo e para com si próprio, por um indivíduo - o mito.

Oitavo círculo: Fraude


A mentira é a fraude das palavras. Na verdade, é a expressão verbal de algo que pode vir a ser (ou não) uma fraude real. No entanto, a mentira executada é sua materialização. Seja em forma de pedalada fiscal, seja na venda super-faturada de uma refinaria ou no perdão calculado de da dívida de certos países para com o BNDES. A fraude mata, pois é a transferência de renda do potencialmente bom para o mal. O que nos leva ao nono círculo.

Nono círculo: Traição ao povo


A traição ao povo é a renúncia da nacionalidade, a renúncia de princípios, a renúncia de tudo aquilo com o qual um político se comprometeu a fazer quando ingressou na vida pública. A traição pode vir da fraude, da mentira, do egoísmo. No entanto, o político que chega a esse ponto, passou por cada um dos círculos e demonstrou excelência na transição de um para o outro. Quem atinge esse estágio, nunca será esquecido pelo povo, algo que, por si só, já seria uma punição. Ele será lembrado, se tornará adjetivo e servirá de exemplo para que nunca mais algo assim volte a existir. Os grandes heróis surgem quando os potenciais heróis ocupam tal estágio do universo político.

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