Um pinta ou implanta cabelos. Outro ajeita a gravata bem abaixo ou bem acima do cinto ao pé do ventre, contrariando todas as regras da etiqueta. E não faltam também outras que, mesmo sem repetir o vestido e os sapatos, têm cabeleireiros e maquiadores que seriam reprovados ainda na preparação das múmias do Egito antigo!
Todos devemos muito a fotógrafos e cinegrafistas. Uma coisa é ler a frase proferida pelo parlamentar que não domina sequer a língua falada, sua ferramenta de trabalho por excelência, ou ouvi-la de terceiros. Mas outra, bem diferente, é ver a cara dos brutos proferindo a infâmia. E que delícia contemplá-los naquelas vestes e pompas!
Mas ainda mais forte é ver e ouvir o cara de pau olhando meio de lado para a câmera e atestando o contrário, não apenas do que diz, mas do que sente e pensa.
O corpo fala, mede, fixa a altura, a profundidade, a largura, o tamanho e é capaz de evidenciar verdades ocultas e realçar ainda mais as mentiras profissionais.
A língua portuguesa mostra isso em numerosas palavras e expressões. A polegada, medida fixada em dois centímetros e meio pelo rei inglês Eduardo I, no século XVI, ainda hoje mede a tela de celulares, smartphones, tablets e televisores em que contemplamos a face mais sinistra daqueles que elegemos.
O que vimos em tantos deles para os elevar a tão altos cargos, sem que possamos imputar a má escolha a ninguém mais, só mesmo aos eleitores, isto é, a nós mesmos, que votamos protegidos no último reduto da liberdade, a sacrossanta urna?
Dois dedos de prosa podem servir para descomplicar a questão emaranhada. O dedo-duro, simbolizado no gesto do alcagueta esticando o indicador, espanta-nos à simples menção, mesmo tanto tempo depois de governos impostos contra a democracia, quando se mostrou ferramenta de exercício do poder.
Nos tempos atuais, o gesto migrou da mão para a língua no bater de línguas nos dentes nas delações premiadas, sem as quais provavelmente jamais o distinto público saberia de coisa alguma. Só sabe porque os arrependidos ou flagrados com a boca na botija resolveram falar para salvar a própria pele.
Estes políticos que traíram o público serão julgados olho por olho, dente por dente ou vão cumprir as sentenças apenas com o adereço da tornozeleira eletrônica?
A coisa pode também não nos cheirar bem, por faltar vergonha na cara de quem proferiu, expressou ou escreveu a infâmia da semana passada.
A democracia, à semelhança da baiana, tem ‘graça como ninguém’ e ‘requebra bem’, itens que as réguas não medem, para evitar equívocos. Afinal, por duas polegadas a mais, já passaram a baiana pra trás. E sempre restará a questão vista de outro modo: Marta Rocha tinha duas polegadas a mais ou a americana Miriam Stevenson tinha duas polegadas a menos?
Naquela oportunidade, quem decidiu, usou outras medidas ou usou as medidas de outro modo, como hoje fazem tantos poderes da República, esta nossa frágil plantinha, nascida de um golpe de Estado liderado por um marechal monarquista amigo do imperador mais republicano que tivemos, a quem o amigo depôs e despachou para o exílio no meio da noite, pois se aguardasse a manhã, o povo talvez o entronizasse de volta.
E com que medida os novos aliados medirão os antigos? Afinal, eles são sempre os mesmos, não são? Eles sempre se entenderam. Não se entenderão apenas desta vez? O que mudou para eles mudarem tanto, se é que vão mudar?
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