De fato, não temos prefeitos-de-verdade em nossos mais de cinco mil municípios. Haddad, em São Paulo, foi exceção mais do que rara. Para a quase totalidade de nossos alcaides, urbanismo é luxo, conversa fiada de arquiteto. Planejamento urbano só interessa se der lucro. Ecologia atrapalha o “desenvolvimento”.
Durante seus mandatos, não é raro que as cidades sejam levadas à falência. Prevalecem ações imediatistas e predatórias. Obras vistosas (pouco importa se realmente necessárias ou não). Estupros urbanísticos, cuja longa tradição no Brasil quase rivaliza com a história de nossas violências sexuais. Corrupção. E imprevidência.
Neste momento, por exemplo, nossas cidades não estão encarando seus grandes problemas do presente – e muito menos se preparando para desafios futuros que já começam a se insinuar – e, em alguns casos, a se desenhar – no horizonte.
Tome-se o caso do aquecimento global (ao contrário do que ocorre nos países mais avançados da Europa, por exemplo, nossos prefeitos sorriem algo ironicamente quando ouvem a expressão). Pelo andar da carruagem, nossas cidades litorais irão experimentar momentos difíceis, angustiantes mesmo. Mas quem está preocupado com isso?
Mas não é só a elevação do nível do mar. Com o aquecimento, alguns espaços da extensão territorial brasileira podem se tornar insuportáveis para seres humanos, com ondas de calor a varrer terras nortistas e nordestinas, provocando mortes. E o que vai atingir em cheio determinadas cidades: fortes fluxos migratórios interurbanos.
O Brasil, que já concluiu sua transição demográfica campo-cidade na década de 1970, deverá conhecer, daqui a pouquíssimas décadas, nova onda migratória – desta vez, entre cidades. Com rios minguando, crise elétrica, usinas se convertendo em monumentos irônicos, calor dos infernos. Mas – repito – quem está preocupado com isso?
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