Apesar da expansão quantitativa das matrículas, a cada comparação internacional, a cada divulgação dos resultados da educação básica no Brasil, renova-se esse constrangimento. Já no Pisa 2003, o país continuava nas últimas posições. Chega o Pisa 2015, 12 anos depois (!), e o Brasil, estagnado, continua tão mal posicionado no ranking mundial da Educação quanto no passado, entre os piores do mundo.
Observamos o cruzamento de dois tipos de pobreza na Educação brasileira: ela é pobre quando comparada a padrões internacionais, mas é ainda mais pobre quando oferecida aos filhos de pais pobres. Os alunos mais desfavorecidos materialmente aprendem menos, e os mais ricos têm melhores notas. A perversidade dessa combinação chama poderosamente nossa atenção. Como afirma recente editorial do GLOBO, “mesmo previsível, a tragédia da Educação no país assusta”.
O Brasil se acostumou a aceitar, como naturais, indicadores que deveriam ser firmemente repudiados pela sociedade: taxas de homicídios altíssimas, resolução de conflitos de forma violenta a todo momento, colapso dos sistemas públicos de saúde e resultados lamentáveis dos sistemas educacionais, tanto públicos quanto privados.
O caso da Educação é flagrante e merece destaque, pois está por trás de outras mazelas sociais do país. No recente Pisa 2015, amplamente relatado pela imprensa brasileira, as médias dos alunos brasileiros não tiveram avanço significativo nas três áreas avaliadas: Matemática, Leitura e Ciências.
O escore médio dos jovens estudantes brasileiros na avaliação de Ciências foi de 401 pontos. Esse número é consideravelmente inferior ao da média dos estudantes dos países membros da OCDE (493). Pouco mais de 40% dos estudantes brasileiros atingiram o nível 2 de uma escala que vai de 1 a 6, ou seja, o nível básico de proficiência que permite a aprendizagem e a participação plena na vida social, econômica e cívica das sociedades modernas em um mundo globalizado.
No que diz respeito à leitura, o Brasil teve média de 41,4% com relação ao percentual de respostas corretas. Se comparado a países da OCDE, essa média se mostra muito inferior: Finlândia (65,5%), Canadá (64,9%), Coreia do Sul (64,4%), Estados Unidos (60%), Portugal (59,9%), Espanha (59,8%), Chile (51,9%). O escore médio dos estudantes brasileiros de 15 anos na avaliação de leitura foi de 407 pontos, enquanto a média na OCDE ficou em 493.
O escore médio do estudante brasileiro em Matemática foi de 377 pontos. A média da OCDE foi 490. No Brasil, 70,3% dos estudantes estão abaixo do nível 2 (na mesma escala que vai de 1 a 6), patamar que a OCDE estabelece como necessário para que se possa dizer que eles exercem plenamente a cidadania. Esse percentual é maior na República Dominicana (90,5%) e menor na Finlândia (13,6%).
Em Ciências, mais de 56% dos alunos brasileiros, na faixa etária dos 15 aos 16 anos, contemplada na pesquisa, só conseguem resolver questões de baixa exigência cognitiva. No ranking de 14 países, elaborado pelo Inep, o Brasil só está à frente do Peru (397) e, novamente, da República Dominicana (332).
Mais uma vez, resultados preocupantes como esses nos levam a reiterar que a Educação não é uma prioridade para o Estado brasileiro. A sociedade tem que se dar conta de que isso é inaceitável. É necessário que assuma uma posição enérgica e ativa para reivindicar não apenas uma vaga na escola, mas também uma escola de qualidade — e para todas e todos.
Da mesma forma que, com êxito, parcela expressiva da população brasileira se está fazendo ouvir diante das tentativas de conter avanços sociais importantes, como os protestos que atacam a corrupção endêmica no país, chegou o momento de ela não aceitar mais uma educação ruim, igualmente endêmica, que assola o Brasil e reproduz desigualdades intoleráveis.
Jorge Werthein
Nenhum comentário:
Postar um comentário