segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Eles sabem muito bem o que fazem

Dizem dos políticos que eles ignoram a realidade. Talvez porque seja mais cômodo ignorá-la. Talvez porque passem muito do seu tempo em Brasília, distante das pressões dos grandes centros urbanos. Talvez porque sejam de fato uns sujeitos insensíveis.

Não é nada disso. Levando-se em conta a maioria deles, não é. O deputado Ulysses Guimarães, o maior nome da oposição nos anos cruéis da ditadura militar de 64, dizia que o mais bobo dos parlamentares era capaz de consertar relógio usando luvas de boxe.

Os políticos conhecem muito bem a realidade em que vivem – os que não conhecem duram pouco. E é por conhecê-la tão bem que fazem determinadas coisas capazes de chocar o cidadão comum. Ou o analista acadêmico mais sofisticado.

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Na semana passada, a Câmara dos Deputados desfigurou o pacote de medidas contra a corrupção apresentado pelo Ministério Público e subscrito por dois milhões e meio de brasileiros. No dia seguinte, Renan Calheiros tentou empurrá-lo goela baixo dos senadores.

Foi uma demonstração de desconhecimento da realidade dada pelos deputados e por Renan? Não. Pelo contrário. Dada à realidade do cerco da Lava-Jato aos que roubaram ou deixaram roubar, eles fizeram o que certamente deveria se esperar deles.

Agiram em defesa dos seus mandatos, da sua sobrevivência. Que alma ingênua poderia imaginar que eles se converteriam de repente à decência e se deixariam imolar nas chamas atiçadas por procuradores, juízes e uma opinião pública indignada?

Peça a um político qualquer coisa – nem tudo ele lhe dará. Mas não peça que se suicide. O ambiente no Congresso, especialmente ali, mas não só ali, é de pavor à medida que o apocalipse se aproxima com as delações da Odebrecht e de outras construtoras.

Deputados, senadores, governadores e ex-governadores, ministros e ex-ministros de governos passados e do atual, sabem onde os calos lhe apertam. E procuram uma saída de emergência. Por ora, não encontraram nenhuma. Mas seguirão procurando.

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