É bem verdade que o Natal não é mais o mesmo. Perdeu a magia e o encanto, com uma superpopulação de Papai Noel que Deus me livre! Dos sofisticados shoppings, onde decorações exuberantes estimulam filas de consumidores e selfies intermináveis, até os Papais Noéis mambembes de pequenos comércios, ou os populares como os da 25 de Março, do Saara, ou da rua dos Carijós. Magros, barba branca mal-ajustada e sininhos empunhados por desempregados ou biscateiros, obrigados a sorrir para as cada vez mais novas e raras crianças ingênuas que ainda se extasiam com o Bom Velhinho.
Parte da população assalta o comércio, em uma compulsão consumista que beira ao doentio. São os “natalmaníacos”: decoram as casas, árvores com enfeites, luzinhas no jardim, na varanda. Organizam festas homéricas, e haja castanha, nozes, perus, farofa de ovos, pernis, frutas diversas, foguetes, e as músicas “noite feliz, noite feliz”. Enquanto isso, os angustiados e deprimidos ficam loucos para acelerar o tempo, submergir no dia 22 de dezembro e reaparecer no dia 3 de janeiro. Alegam que tais festas lembram pessoas já falecidas, ou brigas que dividiram famílias, ou Natais de privação, ou que remetem a perdas, e sei lá mais o que... O certo é que essas duas tribos, os que amam e odeiam o fim de ano, se contrastam, muitas vezes se cobram, e não se entendem. A todos, eu digo que a arte da compreensão é o humilde aprendizado de trocar de lado com o outro.
A diversidade é uma dádiva, e ninguém está certo nem errado. Aos que se entristecem nessa época, algumas dicas: se apresentem como são, não tentem fingir o que não sentem, não façam o que não querem. Mas com a suavidade e sabedoria de não ser a gota de limão que talha um litro de leite. Afinal, os que amam festas e comemorações são a maioria. Durma mais cedo, leia um livro, assista a um filme (não natalino) e, no dia seguinte, almoce o resto da ceia e curta a alegria dos que ganharam seus presentes.
Aceite a ressaca sem sentido dos que encheram a cara e vão rebater até o dia 2 de janeiro. Faça sua caminhada e compartilhe com as crianças a alegria de suas bicicletas novas e presentinhos nas praças da cidade. Pois é essa alegria espontânea e original que sustenta o espírito de Natal. Enquanto houver crianças que acreditam no Velhinho e seu trenó, a essência natalina será preservada. Pois reviver essa magia é preservar a criança que no fundo nos habita. A todos, um Natal que seja da forma e do conteúdo de modo a respeitar a todos!
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