terça-feira, 1 de novembro de 2016

Abstenção, votos nulos e brancos representam a reação popular à política

O Estado de São Paulo, edição de segunda-feira, revelou que o índice de votos em branco e nulos, nas urnas de domingo, alcançou 14,2%, o maior registrado até hoje, enquanto a abstenção geral atingiu também o recorde de 21,5%. Os dados são do TRE e ainda se encontram sujeitos a revisões mínimas. Mas o panorama já está traçado e definido em sua essência. Isso em todo o país. Na cidade do Rio de Janeiro, a abstenção foi de 23%. Os brancos e nulos somaram 20%.

A insatisfação quase geral explica o fenômeno. Os eleitores, em grande parte, revelaram-se descontentes, tanto da política, mas, sobretudo, dos políticos. Da falta de respostas concretas a problemas que se eternizam e inclusive ameaçam permanecer como uma fonte de ansiedade que se reabastece de promessas vãs. Todos os candidatos vão resolver os desafios da saúde pública, educação, segurança e do transporte. Nada disso tem ocorrido.

A perspectiva financeira do RJ em 2014 era péssima. Mas o candidato reeleito Pezão (ele assumira no lugar de Sérgio Cabral em abril) a expôs como das melhores. Hoje, dois anos depois, o caso é de insolvência praticamente total. As dívidas se acumulam. E as isenções tributárias a empresas já se acumularam.


Os eleitores sentem-se traídos, mas o que podem fazer depois de serem alvo (como é habitual) de falsas promessas? Nada. Só protestar contra a falsa sedução política. Na sucessão presidencial de 2014, por exemplo, a presidente Dilma Rousseff reelegeu-se assumindo uma sequência de compromissos. Mantida no Palácio do Planalto, colocou em prática exatamente o contrário do que apresentara como seu programa de governo. Não foi o único caso. Os que votaram levando-a à vitória tiveram o impulso lógico de buscar seu voto de volta das urnas eletrônicas. Já era tarde.

Assim, de ilusão em ilusão, foram conduzidos a uma desilusão acentuada.

Essa desilusão foi projetada nas urnas de domingo em 57 cidades brasileiras, especialmente no Rio. Na capital fluminense, as legendas submergiram tragadas pela sua própria falsidade. Os candidatos não representavam de forma firme a esperança popular. Daí os votos nulos e brancos, daí uma abstenção bem maior que a habitual.

É claro que existem milhares de casos de impossibilidade de comparecer às seções eleitorais, porém, comparando-se o panorama carioca ao de outras capitais, constata-se a enorme diferença. A abstenção aqui foi 10 pontos maior, da mesma forma que a parcela de sufrágios brancos e nulos. Significa um choque, um lance de protesto contra a farsa que se repete indefinidamente.

Só houve definição, aliás muito nítida, quanto à desonerações de impostos. Nenhum candidato focalizou o tema, profundamente crítico e que possui enormes reflexos negativos, produzindo o déficit fiscal e desequilíbrio orçamentário. Desequilíbrio que é pago, como sempre, pelo povo no seu dia a dia.

Quadro triste, realidade desanimadora. Contaminou a emoção de votar e atingiu a democracia. Para reabilitá-la é preciso que a classe política ouça e responda à voz das ruas.
Pedro do Coutto

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