Há múltiplas delações premiadas em curso, de empresários, doleiros e operadores, algumas já concluídas, acrescentando novos dados e personagens aos crimes de rapina, perpetrados ao longo dos últimos 13 anos e meio contra o Estado brasileiro.
Não se sabe o que daí ainda virá, mas sabe-se que a Lava Jato está longe de seu fim, e recentemente obteve prorrogação de um ano em suas investigações. Mas o que se sabe já convulsiona a República.
A hipótese de Michel Temer vir a ser atingido direta ou indiretamente por essas revelações não é remota. Já teve de demitir ministros e é possível que haja outros na fila. Como se não bastasse, há o processo contra a chapa eleitoral em que figurou ao lado de Dilma. O ministro Luiz Fux, do STF, considerou possível que, no processo em curso no TSE, Temer possa se dissociar de Dilma.
A jurisprudência, no entanto, vai em sentido contrário, o que daria ao fatiamento das campanhas um selo de casuísmo, enfraquecendo ainda mais a autoridade moral do atual presidente, que ainda corteja sem êxito a simpatia da opinião pública.
O legado econômico do PT é devastador. A PEC 241, que estabelece o teto de gastos públicos, nada mais é que o retorno à lógica contábil, em que só se gasta o que se tem. E é um desafio ao gestor, que terá de estabelecer o que de fato é prioridade.
Se, por exemplo, estivesse em vigor no início do governo Dilma, o Brasil não teria promovido nem a Copa do Mundo, nem as Olimpíadas, a menos que as considerasse (como as considerou) mais prioritárias que educação, saúde, segurança, programas sociais, obviamente prejudicados por gastos adicionais nada modestos.
O resultado aí está: R$ 170 bilhões de déficit no orçamento do próximo ano, 12 milhões de desempregados e milhares de empresas fechadas. Não basta, porém, dar racionalidade às contas. É preciso que o governo sinalize com alguma estabilidade. E é impossível fazê-lo quando abriga ainda gente sob suspeita, alguns já citados nas investigações policiais. O país quer tanto a estabilidade quanto o saneamento moral de sua classe dirigente.
No momento, porém, essas coisas colidem - e não há como excluir uma em favor da outra. A prisão de Cunha não terá resultados imediatos. É óbvio que ele irá delatar, já que não pretende ver mulher e filha presas, nem passar o resto da vida na prisão.
Mas a delação é precedida de negociações, em que o delator tem de provar a utilidade do que delatará. Cunha chega com a maior parte de sua história já conhecida. Mas a parte que resta, e que envolve nomes graduados, pode fazer a diferença.
Resta saber o que ele está disposto a contar. E aí a Praça dos Três Poderes balança. Ele é não apenas um arquétipo do político brasileiro contemporâneo, mas alguém que se tornou íntimo das altas esferas do poder, desde os tempos de Collor de Mello.
Lidou com a esquerda, a direita, o subsolo e a sobreloja. Foi sempre um personagem de segundo escalão, alçado ao primeiro exatamente por quem mais hoje o critica: o PT.
Sua prisão foi vista como preâmbulo à de Lula, o que não é necessariamente verdade. A situação de Lula envolve outro roteiro, cujo timing só a Força Tarefa conhece, mas cujo conteúdo foi antecipado na célebre entrevista dos procuradores, há um mês.
Lula foi considerado chefe da organização criminosa que promoveu o assalto à Petrobras e a outras estatais em mais de duas décadas de exercício do poder. Cunha é peixe pequeno diante disso. O que têm em comum é uma conversa agendada com o juiz Sérgio Moro, em que o veículo disponível é um camburão. Cunha já foi.
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