Santiago Caruso |
O delegado explicou a diferença entre esse “novo animal” e o crime organizado tradicional: um, o “organizado”, é praticado por grupos de pessoas; o “institucionalizado” é comandado pelo “núcleo do poder”, no Planalto e na Casa Civil, por exemplo, “e não usa armas, mas o Diário Oficial”. Lula, aliás, é três vezes réu.
O presidente e o relator da comissão, Joaquim Passarinho (PSD) e Onyx Lorenzoni (DEM), querem discutir o parecer final no início de novembro e a semana que vem será animada. A comissão ouvirá o ministro Alexandre de Moraes (Justiça) na segunda-feira, terá depoimentos todos os dias e chegará a cem depoentes sobre as dez medidas apresentadas por procuradores e subscritas, agora, por três milhões de brasileiros.
Só esse número comprova o quanto a sociedade está exausta de desvios milionários e onipresentes. Como disse o ministro do STF Luís Roberto Barroso ao Estado, “onde você destampa tem alguma coisa errada”. Ele não citou, mas bem poderia ter citado a Petrobrás, a Casa Civil, Fazenda, Planejamento, Minas e Energia, BNDES, Correios, Carf (o conselho revisor de decisões da Receita), fundos de pensão e vai por aí afora. Destampou, achou.
Também participaram da sessão da comissão na terça-feira duas representantes da chamada “sociedade civil”, Ana Paula Sayão e Rosa Richter, e elas, assíduas no acompanhamento dos trabalhos, dizem que se surpreenderam com o ritmo frenético da Câmara e com a seriedade de parlamentares que estão de fato envolvidos na aprovação das propostas. O Congresso, visto de dentro, é menos horripilante do que aparece na mídia...
Eis as 10 propostas: “testes de integridade” em agentes públicos; criminalização do enriquecimento ilícito e do caixa 2 de campanha; transformar corrupção em crime hediondo; apressar penas e prisões em crimes comprovados; rapidez também nas ações de improbidade; acabar a prescrição ou ampliar prazos; redução das nulidades penais; prisão preventiva para evitar evasão do fruto do roubo; devolução do dinheiro desviado.
A questão do foro privilegiado para político fica fora, porque exige Emenda Constitucional e poderia atrasar a aprovação do pacote. Mas podem ser incluídas duas medidas pelas quais se bate Rubens Bueno (PPS): aposentadoria para juízes afastados por corrupção e mais rigor com os aditamentos em obras públicas, um ralo do dinheiro público.
Uma curiosidade: enquanto a comissão da corrupção se reunia, o plenário guerreava para incluir no projeto de repatriação de recursos a permissão para que familiares de políticos possam aderir e se beneficiar da lei. Dureza, não?
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