É nítido, neste momento histórico, que onde existe uma possibilidade eleitoral a favor da “novidade” e da capacidade de gestão, em contraposição à política que levou o Brasil à “falência”, o eleitor tende a embarcar na primeira. Foram poucas as candidaturas em 2016 com esse apelo, mas tiveram um elevado índice de sucesso.
Caso mais meridiano é o de João Doria, em São Paulo. Pegou o pouco de bom da tradição e se fartou de muita mudança e capacidade de gestão.
Nunca foi tão difícil para políticos requentar as velhas propostas e discursos; os comícios foram ultrapassados em importância pelo Facebook, mais barato, de maior e mais contundente alcance.
Quem deixou de fazer carreatas economizou gasolina sem perder um voto, os candidatos mais atentos se esquivaram dessas e se deram bem. Quem usou a roupagem a rigor da política enfrentou desconforto.
O eleitor de 2016 é o mais revoltado das últimas décadas. Parece estar sofrendo na pele a catástrofe que assola o país e enxerga a razão disso na corrupção em suas multíplices formas adotadas pelos políticos.
O desemprego e a falta de atenção a educação, saúde e segurança devastaram o conceito de quem está nas proximidades do “poder”. E com razão! O povo sofre. Sofre muito e culpa quem está no poder.
Os partidos historicamente antagônicos nunca foram tão nivelados em mediocridade. Mais ou menos culpados, mais ou menos coniventes, os navegantes do poder estão ardendo na mesma frigideira e, autopsiados, revelam as mesmas causas internas de falência generalizada.
No debate da RedeTV! aqui, em BH, um deplorável encontro de “vale-tudo”, o candidato do PSDB negou seu padrinho, não respondeu às perguntas que afirmariam o apoio dele. Parecia como são Pedro na Quinta-Feira Santa ao ser interrogado pelos soldados romanos antes que o galo cantasse na madrugada. A expressão dele era aquela imortalizada no quadro “A Negação de Pedro”.
Nessa obra exibe-se o apóstolo com trepidação em sua expressão insegura. Seus olhos buscam – sem encontrar – a firmeza para se desvencilhar do que o levaria à desgraça. Provavelmente, no caso de João Leite, não seria uma perda, mas nitidamente estava temeroso e preparado para sair de uma ligação que até ontem era sua maior bandeira. Alexandre Kalil deu um “coice” no presidente de seu partido, PHS, “nunca o vi”, e ainda afirmou que se filiou a um partido porque de outra forma não poderia ser legalmente candidato.
Para atento observador, essas manifestações consolidam os fantasmas que aparecem no horizonte verde-amarelo. Nos últimos dias, a ficha caiu, e ninguém quer ser apadrinhado por quem quer que seja.
Repete-se o fenômeno que se seguiu à operação Mani Pulite, na Itália, e poderá ocorrer aqui, no Brasil, em decorrência da Lava Jato. Os partidos foram varridos lá, porque na Itália o sistema, que funcionava num clima saturado de corrupção, foi condenado como um todo.
A mudança é politicamente progressiva e sequencial. Previsível, apesar de incerto ser o prazo de execução do destino.
A eleição de 2018 ocorrerá à luz da legislação atual, a não ser que movimentos de ruas, empurrados por redes sociais, antecipem a ruptura do velho modelo, mas até lá muitos desaparecerão de cena.
A transição da velha para a nova política está para acontecer e se precipitar com a prisão de Eduardo Cunha, um meteorito que extinguirá o sistema jurássico.
João Doria, em São Paulo, antecipa a solidificação do magma que escorre da erupção em curso. Outra era está nascendo.
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