sexta-feira, 15 de julho de 2016

Menos judicio, mais juízo

No primeiro grau (na escola, não na instância), ensinaram que, logo após o descobrimento, caravelas portuguesas se alternavam para extrair e transportar da Terra de Santa Cruz uma madeira de uma árvore de tronco avermelhado (em “brasa”), cuja resina vermelha era muito apreciada como corante para a fabricação de roupas de alta qualidade na Europa. Criou-se uma demanda enorme no mercado europeu, o que forçou uma rápida e devastadora "caça" ao pau-brasil nas matas brasileiras. Em pouco menos de um século, já não havia mais árvores suficientes para suprir a demanda, e a atividade econômica foi deixada de lado.

O espírito descobridor português, tão logo chegado à nova terra, fora sucedido por um modo aproveitador e extrativista. Logo após a extração do Pau-Brasil, as atividades econômicas subsequentes e desordenadas, como o cultivo da cana-de-açúcar e do café, além do crescimento populacional, causaram grande desmatamento da faixa litorânea brasileira. Era tudo do tipo pegar e levar, sem qualquer preocupação com a formação de um novo país, uma nova e virtuosa nação nas terras d’além mar.

Até hoje convivemos com um enorme contingente que continua pensando e agindo da mesma forma que a turma de Cabral, extraindo sem se preocupar com plantios e replantios, abusando do ambiente como se ele fosse sem importância, menosprezando valores sociais vitais à uma nação jovem que, já não tão jovem, mostra jeito moribundo precocemente. Todos os dias, ouvimos falar de “grandes líderes” que roubam dinheiro de impostos, surrupiam merendas e remédios da boca de famintos, de ilustres “gestores” que amontoam cadáveres ainda respirando em corredores de hospitais. São muitos os brasileiros que, tal qual Cabral e seus mercadores, continuam a tratar o país, seus recursos e pessoas da mesma forma que nos tempos do descobrimento. Tratam a Terra Brasilis como se tivessem outra, como se nela não morassem, como se dela não dependessem.

Os políticos são o grupo mais atual e destacado de “corsários” sociais e econômicos que pilham o estado como parasitas inclementes e insaciáveis. São navegantes autorizados a tomar para si o que não lhes pertence. Nesta senda extrativista, insensível e cruel, um outro grupo promove seus interesses, cobrindo-os e a si próprios com mantos negros de escuridão. Deram a este grupo, que opera muito frequentemente com os políticos, de “poder judiciário”. Este poder, que deveria cuidar para que tivéssemos um país de verdade, locupleta-se, sozinho ou em bandos, quando não de gordos vencimentos, da tolerância, do desaviso e da ingenuidade de seus pares cidadãos.

Eis o grande problema do Brasil, motivo pelo qual temos um hino, um selo, uma bandeira e um brasão – mas não temos um país de verdade.

Enquanto políticos e juízes (e seus genéricos ou congêneres) não cessarem seu furor por fama e riqueza, enquanto governantes e magistrados não assumirem seus verdadeiros papéis, teremos um território, um espaço aéreo, um subsolo e um mar territorial, mas não seremos um país de verdade, uma nação de fato. Continuaremos todos a falar um mesmo idioma, a moeda será única em todo o território, mas ainda assim, pela conduta imprópria, inadequada e repulsiva de líderes políticos e judiciais, não conseguiremos, de verdade, nos tornar um país digno de respeito.

Quando a corrupção se tornar uma exceção e for punida com justiça e celeridade, quando a classe política, juízes e advogados começarem a dar mais valor à justiça verdadeira do que às delícias e prazeres de chicanas e processos, seremos convidados a sentar mais próximos de países de verdade. Parece tudo tão simples, mas é deveras distante, quase utópico.

Precisamos de um país com políticos e magistrados que honrem a seu povo com probidade, seriedade e a responsabilidade. Queremos justiça e respeito, apesar de ainda sermos tão tolos e inertes. Chega de políticos sujos e de juízes mais sujos ainda. Chega de corsários, piratas e saqueadores. O quanto antes melhor. De preferência antes que nossa paciência termine.

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