O afastamento de Dilma causou alívio à maior parte do país
O afastamento por até 180 dias da presidente Dilma obedeceu à Constituição e já propiciou algum alívio ao país. Alívio maior somente acontecerá depois de seu esperado afastamento definitivo. O episódio lembra a figura bem-humorada de Plínio de Arruda Sampaio, morto em 2014, aos 84 anos. Advogado, promotor público, professor, ativista político e ex-deputado federal por três mandatos, Plínio, ao lado de gente boa, fez parte da Ação Popular, ligada à Ação Católica, que combateu a ditadura militar. Foi filiado ao PDC, ao MDB, ao PT e ao PSOL. Por este, foi candidato a presidente da República em 2010.
Em 1978, Plínio apoiou a candidatura de Fernando Henrique como suplente do Senado por São Paulo. Com outros, teriam acertado a criação do Partido Socialista Democrático Popular (PSDP), se FHC tivesse mais de 1.000.000 de votos. O ex-presidente conquistou 1.600.000, mas optou pelo fortalecimento do MDB. Arruda se considerou traído. Deixou o MDB, foi fundador do PT e, depois, filiou-se ao PSOL.
Está até hoje na internet, de viva voz, este comentário de Plínio sobre a despreparada candidata Dilma Rousseff: “Eu acho que é um absurdo ir para a Presidência da República uma senhora desconhecida. Você nunca a entrevistou antes. Ela surgiu sagrada como candidata. O país vai sofrer com isso, e é mais provável que dê errado. Primeiro: nessa história de ter um fantasma atrás dela mandando, acontece besteira sempre. ‘O presidente Lula fez mais inquérito que tudo’, ela diz. Quer dizer, então, que teve muita gente roubando… Não tem autoridade, esse é o problema dela. É uma pessoa fabricada pelo Lula. Essa moça é um blefe. Ela foi inventada, está defendendo uma política que superficialmente parece ser muito boa, mas ela não vem ao debate, pois não tem resposta para isso, e queremos trazer o Brasil real para esse debate, não o Brasil fabricado pelos marqueteiros. Ela é um produto de marketing político, uma invenção marqueteira, e é isso que precisamos rejeitar. Olha: a única coisa que peço aos que não votarem em mim é que, quando acontecer o que eu disse, lembrem-se, o Plínio disse. Quando não tiver dinheiro para nada… Ah, o homem lá falou…”.
Plínio não sobreviveu para constatar, com os próprios olhos, o que fez a “moça”, que, para ele, era um blefe. Felizmente, talvez.
Pois bem. Sem verter uma só lágrima, e circundada por ex-ministros, ex-auxiliares e alguns políticos, a presidente Dilma confirmou, em seu patético pronunciamento no Palácio do Planalto, além de seu temido perfil humano e de sua maneira errática ao falar em público, a mesma soberba que há mais de cinco anos exibe ao país. Comportou-se como vítima e não foi capaz de reconhecer o mal que fez aos pobres ao optar por uma política econômica, no mínimo, suicida. Em seguida, ao se dirigir ao pequeno “exército”, composto, em sua maioria, de gente humilde (explorada por ela e por seu partido), que a aguardava fora do Palácio, repetiu, exaustivamente, o mesmíssimo discurso.
Não há dúvida de que o presidente em exercício Michel Temer tem em mãos uma empreitada hercúlea (e histórica), que exige dele coragem, seriedade, competência, mas, sobretudo, urgência.
Há muito mais coisa para escrever sobre o mal que a presidente afastada fez ao país. Mas não se pode deixar de registrar o seguinte: aboletada no Palácio da Alvorada, e a nossas expensas, ela não poderá usá-lo para denegrir-lhe a imagem. Seria de todo intolerável!
Mas ela o fará, se formos lenientes.
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