Educação e cultura: uma aliança perfeita
A gritaria contra a absorção do Ministério da Cultura pela pasta da Educação, como era até 1985, foi tão intensa que o presidente interino Michel Temer reviu seu projeto de modernização do Estado, contrariando grande parcela da população que está lutando por nova práxis política. Ele cedeu a figurões da música e das artes cênicas, que recebiam apoio ruidoso da mídia e de segmentos da vanguarda brasileira, sob o argumento de que a cultura seria profundamente afetada.
Essa postura registrou, infelizmente, preconceito em relação à educação como o sistema mais adequado para preparar as novas gerações quanto à formação de habilidades, à assimilação de conhecimento e ao cultivo das artes expressas como música, desenho, dança, modelagem, teatro, pintura, escultura e tecelagem. Isso compunha a escola brasileira até os anos 70, mas foi extinto com reformas curriculares para cortar custos, experimentar novas teorias pedagógicas e introduzir tecnologias de informação. A retomada da aliança poderia permitir, entretanto, que o templo do saber fosse novamente o espaço para a descoberta de talentos, conferindo aos alunos as lições para desenvolver suas potencialidades com supervisão adequada para a profissionalização dos mais talentosos e a formação de espectadores conscientes e leais aos bons artistas. Ou seja, a aglutinação das duas áreas numa pasta ensejaria a recuperação do diálogo, com melhoria significativa do sistema educacional, menosprezado desde a colonização da Terra de Santa Cruz. Foi, então, injustificável que justamente o segmento mais instruído, moderno e celebrado pelo público e pelo Estado tenha ficado insensível aos benefícios inerentes à proximidade das artes com a escola num ministério com alta dotação orçamentária.
A grave crise econômica impõe racionalidade nos gastos públicos e redução de serviços inerentes à cidadania, sacrificando os brasileiros. Fica, então, insustentável que um ministério financie, por renúncia fiscal, eventos que têm bilheteria garantida pelo prestígio dos participantes, em detrimento de outras atribuições, como a proteção/administração do patrimônio cultural (arquitetônico, artístico, literário, sacro e arqueológico), das bibliotecas públicas, dos museus, dos monumentos históricos, de atividades tradicionais e das celebrações populares, buscando promover novos talentos e acessibilidade da população a diferentes formas de lazer. É indispensável pôr na mesma balança a encenação de peças de Nelson Rodrigues, as apresentações da MPB, as cavalhadas de Brejo do Amparo, a Semana Santa de Goiás Velho, o Corpus Christi de Ouro Preto, o bumba meu boi de Parintins, o São João no interior do Nordeste, o congado em Bom Despacho e milhares de outros eventos constantes no calendário dos brasileiros. É preciso também apoiar a cerâmica do Vale do Jequitinhonha, a tecelagem de Resende Costa, as bordadeiras de Alagoas e muitas outras atividades que compõem nossas melhores tradições.Gilda de Castro
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