domingo, 10 de abril de 2016

Se ficar, o bicho pega

Aprovado ou rejeitado o pedido de abertura do processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff, o PT terá sido derrotado em ambas as hipóteses. Da mesma forma, o governo. Se perder não governará de direito e se ganhar não o fará de fato.

As nuances entre malefícios e benefícios da vitória ou da derrota é o que se discute hoje atrás do palco onde atuam defensores e detratores dos ocupantes do Palácio do Planalto e adjacências.

O partido de qualquer jeito está perdido no labirinto das próprias incongruências. Na perda de apoio popular, de prefeitos e parlamentares e também na escalada de radicalização em que entrou na esperança de salvar as aparências diante da militância. Levará uma surra histórica na eleição municipal de outubro, ficando ou saindo do comando formal do poder central.


O governo igualmente perdeu-se na ausência de ações capazes nem se diga de ultrapassar, mas de conter o aprofundamento das crises política e econômica, no abandono de qualquer pudor no uso do aparelho do Estado, na perda de apoio popular e político/parlamentar, no esgotamento do crédito de confiança de maior parte dos setores organizados da sociedade, no isolamento de uma presidente cada vez mais agressiva para com os críticos, impossibilitada de circular livremente pelo País que governa e sitiada a ponto de não ir à Grécia para acender a tocha olímpica, a fim de não ceder lugar ao vice Michel Temer como já havia feito recentemente ao cancelar uma viagem aos Estados Unidos.

Nesse cenário que se delineia dantesco, governistas (petistas, inclusive) e oposicionistas têm-se perguntado se a melhor solução não seria uma inversão de expectativas: a oposição apostar na permanência do PT no poder arrastando-se aos farrapos até 2018, e a situação procurar tirar vantagem da aprovação do impeachment, na esperança de ainda conseguir sair como vítima, levando a bandeira do “golpe” País afora, submergindo agora para tentar emergir mais à frente. Seria um caso em que a derrota de hoje seria a melhor solução na perspectiva do dia de amanhã. Há exemplo recente da perda vantajosa.

Quando a trajetória do governo Dilma Rousseff ladeira a baixo ganhou velocidade em seguida à reeleição, correu pela espinha da oposição um arrepio de alívio pela derrota em 2014.

Com base no seguinte raciocínio: se tivesse sido eleito presidente, o senador tucano Aécio Neves teria necessariamente de apresentar bons resultados em curto prazo. Enfrentaria terreno hostil por parte de um PT ainda detentor de razoável força política e seria fortemente cobrado pela sociedade, cuja lua de mel com ele teria breve duração ante a complexidade dos problemas a serem resolvidos.

Isso considerando que há um ano e meio a situação era menos adversa. A Operação Lava Jato não havia produzido tantos e tão consistentes fatos comprometedores para o governo, Luiz Inácio da Silva não havia sofrido pedido de prisão preventiva nem sido conduzido a depor de modo coercitivo, o procurador-geral da República não havia dado sinais claros de que estaria prestes a pedir investigação da presidente por suspeita de obstrução da Justiça e a sociedade brasileira não havia se manifestado com a contundência do dia 13 de março último.

Com a deterioração do quadro, o PT sentou praça no beco sem saída. De lá para cá, se debate numa defesa de argumentos inconsistentes, de atos e palavras cuja virulência não indica capacidade de executar a “repactuação” proposta pelo ministro Jaques Wagner. Entre outros motivos porque o ministro não explicitou os termos do pacto nem apresentou garantias de que, uma vez vitorioso, pela primeira vez o governo aceitaria a convivência pacífica com o contraditório.

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