Com essa unidade nacional do “fora Collor” em mente, voltemos a 2016. O Fiat Elba de 24 anos atrás se transformou em dezenas de bilhões de reais em “pedaladas”, e em outros tantos bilhões em desvios e propinas da Petrobras, outras empresas estatais e ministérios, de acordo com as descobertas da Operação Lava Jato. Para recordar a expressão do ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, “o seu, o meu, o nosso” dinheiro estava sendo embolsado por partidos políticos para a construção de seu projeto de poder. Não deveria ser um motivo ainda maior para que, novamente, “nós” e “eles” estivessem juntos na rua pedindo pelo fim do governo que não apenas permitiu, mas organizou tal esquema?
Infelizmente, não é o que vem acontecendo. É verdade que, ao lado de todos aqueles identificados como “eles”, há alguns tradicionalmente considerados como “nós” e que estão do lado do impeachment, como Fernando Gabeira, com longo histórico de posições de esquerda. Casos como o de Gabeira, no entanto, são uma minoria.
Em 1992, qualquer um que permanecesse do lado de Collor, com tudo o que as investigações do seu esquema haviam descoberto, seria considerado um defensor do indefensável justamente porque não havia tolerância com a ladroagem. É essa intolerância com a corrupção que seria natural esperar neste momento, inclusive daqueles que estão de acordo com o PT em temas como o papel do Estado na economia, programas sociais ou plataformas de cunho moral. Mas muitas dessas pessoas escolheram ficar ao lado do PT e de seus líderes (alguns deles atrás das grades), apesar de tudo o que já foi comprovado.
Como pessoas de boa índole, que inclusive se pautam pela ética no comportamento pessoal, passam a defender o indefensável quando se trata do atual governo? A pura afinidade ideológica não pode ser explicação suficiente: não consideramos correto defender corruptos só porque concordam conosco. É essa reflexão que gostaríamos de deixar para aqueles que desejam construir um país livre de corrupção, independentemente da coloração política de cada um.
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