sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Você colocaria seu dinheiro no país que a cada dia se desmente e se bifurca?

Um labirinto de símbolos …Um invisível labirinto de tempo
Jorge Luis Borges, em O Jardim das Veredas que se Bifurcam

A agência de classificação de risco Fitch retirou o grau de investimento do Brasil. Duas das três grandes agências nos tiraram o selo de bons pagadores.

Há um precedente dolorido nisso. Quero lembrar de uma passagem daquela metade de 2002, quando o dólar bombava mais que hoje: o economista Rudiger Dornbusch, professor do MIT (Massachusetts Institute of Technology), morto em junho daquele ano, aos 60 anos, em Washington.

Destacou-se por ter previsto a crise mexicana, em novembro de 1994, quando da desvalorização do peso mexicano.

Em seu obituário, três grandes jornais brasileiros destacaram uma frase sua, de 1998, um ano antes da desvalorização cambial brasileira. Dornbusch referiu que o FMI (Fundo Monetário Internacional) não deveria colocar dinheiro no Brasil para evitar uma crise. “Quando o Brasil ligar, apenas deixe o telefone tocar. Diga que nossos operadores estão ocupados”.

Imaginemos que você dispõe de alguns milhões de dólares para investir aqui.

Mas aí brota a análise inevitável. O Brasil é o país do jogo de espelhos quebrados, da caleidoscópio. Da pernada de anão.

Os atores políticos mudam o discurso a cada dia.

Alckmin era contra o impeachment depois apoiou.

Bumlai volta atrás e diz que os 12 milhões de pixulecos eram na verdade para o PT.

Aécio a cada seu dizer defende, como um Moisés ensandecido, uma causa diferente.

O vice Temer faz uma carta-bomba contra Dilma e dias depois a beija ao som de Amigos para Sempre.

Na última hora, em julho passado, 28 deputados mudaram seus votos com relação à maioridade penal.

Em agosto passado, o ministro Joaquim Levy declarou que não iria pagar a clássica antecipação do décimo terceiro do aposentado.

Teve de voltar atrás.

Em maio passado, um dia depois de rejeitar a inclusão do financiamento empresarial de campanha na Constituição, a Câmara voltou uma emenda aglutinativa que permite que partidos, e não candidatos, recebam doações de empresas nas eleições.

E agora o de ontem: após o Planalto optar por reduzir a meta fiscal de 2016 para preservar o Bolsa Família, Joaquim Levy decidiu deixar a Fazenda.

Você colocaria seu rico dinheirinho num país cujo mapa muda a cada segundo?

Você colocaria seu rico dinheirinho num país cujos atores políticos mudam de discurso ao sabor da hora?

Sabem porque viramos assim? Ninguém pode assumir compromissos do que fala, nem com ninguém: afinal a nova fase da Lava Jato, a do amanhã, pode mostrar em verdade quem você é…

Isso invadiu até a Lava Jato

Um trecho que extraí da mídia, de 26 de agosto passado:

"A Procuradoria Geral da República (PGR) voltou atrás e desistiu do acordo de delação premiada do ex-assessor parlamentar do deputado federal Pedro Corrêa (PP), Ivan Vernon Gomes Torres Júnior. A informação foi repassada pelo procurador Bruno Calabrich à defesa de Vernon, por WhatsApp, a menos de 24 horas da assinatura de um termo de confidencialidade ser encaminhado à Justiça do Paraná informando sobre a colaboração. Vernon é acusado pelo Ministério Público Federal de usar uma funcionária fantasma lotada no gabinete de Corrêa para desviar mais de R$ 600 mil para o esquema de corrupção.A reviravolta no acordo pegou de surpresa Vernon e sua defesa. O GLOBO apurou que, desde abril, o ex-assessor do PP encontrava regularmente com membros do MPF para tratar da delação. Na segunda-feira, os defensores anexaram o termo de confidencialidade para tentar adiar o depoimento de Vernon à Justiça, marcado para a tarde desta quarta-feira. Minutos antes de entrar no depoimento, Calabrich encaminhou uma mensagem a um dos advogados de Vernon informando: “Não haverá acordo”. Surpresa, a defesa questionou: “Como assim?”. Em seguida, o procurador respondeu: “Não haverá acordo. Sem chance”.


Nada se espera de um delator. Napoleão Bonaparte costumava usar a informação que estes lhes davam, e depois os fuzilava, repetindo um seu adágio: "Do delator, só se aproveita a delação”.

Nada no Brasil se sustenta, tampouco palavra. Não há possibilidade de acordos políticos e pacificações num país em que as regras do jogo sempre mudam aos 46 do segundo tempo.

O Brasil pelo menos um status ganhou: virou personagem daquele conto de Jorge Luis Borges, da década de 1940, chamado O Jardim das Veredas que se Bifurcam.

Qual por vereda nos bifurcaremos loucamente amanhã?

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