Eu desconfio de todo idealista que lucra com seu ideal
Millor Fernandes
Lindo, generoso, sujo, violento e corrupto. O país desmorona sem ter onde se escorar, mas acreditem, neste diminuto Brasil chamado Rio de Janeiro, petulante como São Paulo e empapuçado pelo que de pior a baianidade pode oferecer, o ritmo e as preocupações são diferentes.
Não fosse sua capital moral, de fato e por direito, até seria aconselhável maneirar na dramatização, mas a verdade é que nenhuma outra cidade é capaz de fazer ecoar nossas mazelas com tanta categoria.
Olhando por este lado foi até bom que o bate-boca envolvendo Chico Buarque tenha acontecido por aqui. Ser interpelado por curiosos sobre seu poder de abstração quando se trata do banditismo petista, ainda por cima tendo como pano de fundo o cada vez mais deslumbrado bairro do Leblon, de tão sintomático até parece clichê.
Curiosamente, há duas semanas publiquei um texto sobre o próprio Chico e nosso bovino hábito de confundir persona com pessoa, ao pressupor bom caráter tão somente pela qualidade de uma obra artística. Até funcionaria hoje, mas o foco já é outro.
Continua sendo importante lembrar que pessoas públicas devem estar preparadas para receber críticas ao posicionarem-se politicamente, entretanto é fundamental não comprar o discurso como tem sido vendido pelo establishment, interessado somente em desviar a atenção da crise econômica, política e institucional mais grave em nossa história recente.
Não por acaso, além dos risos envergonhados quando damos com alguém já de cabeça branca demonizando a revista Veja, ou lançando mão da pataquada PT versus PSDB, a única reação possível em todo este episódio é perceber sua calhorda instrumentalização.
Cacá Diegues, por exemplo, outro que fazia parte do grupo inconvenientemente abordado quando gozava de aprazíveis momentos providos por seus cupinchas no poder, chegou ao cúmulo de falar em nazismo, Dilma Rousseff não deixou de emitir nota de solidariedade, e Luiz Inácio chamou de “analfabetos políticos” os críticos do célebre e aparentemente intocável compositor.
Ora, que ninguém ouse discutir analfabetismo com Lula é compreensível, mas tornou-se obrigatório questioná-lo: quem é o pai deste clima de intolerância e rancor capaz de provocar cizânia entre amigos e em nossas famílias? É esta a pergunta que deveria ser feita e repetida até que fosse respondida sem deixar margem para dúvidas.
Querem saber? Beira o patético testemunhar essa gente, há anos dedicada a incutir todo tipo de preconceito para dividir o país, inclusive incentivando a violência e resvalando no racismo, tendo agora o desplante de posar como se fossem vítimas.
Afinal de contas, exatamente do quê estão chiando se apenas estão colhendo o que plantaram com tanto esmero?
Pois digo e repito, o único lamento plausível é constatar o quanto o brasileiro demorou para acordar. Anormal, para dizer o mínimo, seria continuar de braços cruzados contemplando o inferno em que nossas vidas estão se transformando graças a incompetência administrativa, roubalheira, e a este semear de ódio calculado para conquistar o poder de maneira mais fácil e perene.
Querem endossar abaixo-assinado a favor de criminosos responsáveis por ceifar o presente e o futuro de milhões? Acham razoável beijar a mão de quem se elege na base de lorotas e falcatruas? Tudo bem. Só não venham com conversa mole tentando sensibilizar coxinhas, reaças, golpistas e a elite branca inimiga do povo.
Preferencialmente, que tenham um mínimo de hombridade e enfim assumam o clima de guerra que tanto fizeram para instaurar.
De resto, não se preocupem, o choro continua sendo livre.
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