segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Como o segundo maior lago da Bolívia desapareceu?


"Temos um lago que desapareceu, agora é pampa; um deserto onde não se pode semear nada, nem produzir; não há nada, muito menos vida."

Com essas palavras, o dirigente camponês Valerio Rojas descreveu à agência de notícias Efe a situação do lago Poopó, o segundo maior da Bolívia, atrás do Titicaca.

O lago de água salgada, localizado no departamento de Oruro, que faz fronteira com o Chile, tinha uma extensão de 2.337 quilômetros quadrados.

Mas agora ele foi reduzido a três áreas úmidas, espécies de charcos, de menos de um quilômetro quadrado e apenas 30 centímetros de profundidade.

A catástrofe vinha sendo anunciada há anos e tem um forte impacto ecológico, econômico, social e político.

Ela representa a destruição de todo um ecossistema, a perda de espécies centenárias de fauna e flora, o desaparecimento de culturas pelo êxodo de comunidades que sobreviviam do lago e a falta de ações efetivas para enfrentar a seca.

Segundo especialistas, cerca de 200 espécies de aves, peixes, mamíferos, répteis e uma grande variedade de plantas desapareceram com a seca do Poopó.

O ornitólogo Carlos Capriles disse ao jornal boliviano La Razón que, entre as aves que foram forçadas a abandonar o lugar, havia três espécies de flamencos ameaçados de extinção.

"Com o desaparecimento do Poopó, o habitat (das aves) se reduz e aumenta o risco de extinção", explicou Capriles.

O especialista explicou que o lago era o ponto de descanso de aves migratórias que se deslocavam do norte para o sul. "Falamos de cerca de 200 espécies que pereceram ou foram para outras áreas."

Outros ativistas ambientais acrescentam que numerosos mamíferos, répteis e anfíbios ficaram sem habitat e alimento com a transformação do lago em praticamente um deserto.

Mas o pior aconteceu com os peixes, segundo Capriles. Eles não puderam migrar, como os outros animais, e morreram no local.

O Ministério do Meio Ambiente e Água confirmou a perda de uma grande quantidade de espécies únicas, ainda que não se saiba a quantidade exata. Eles planejam realizar uma contagem.

O desastre também teve um custo humano. Cerca de 350 famílias, em sua maioria de pescadores do lago, foram afetadas.

Com o deslocamento forçado também desaparece a cultura da comunidade, que sobrevivia do próprio lago Poopó em uma economia de subsistência.
Causas do desastre

A bacia do Poopó foi declarada, em 2002, um ecossistema de importância internacional onde a água é o principal fator que controla o ambiente, assim como a vegetação e a fauna.

Mas então como ele desapareceu?
As razões são complexas e vão desde os efeitos climatológicos e manejo problemático de recursos aquíferos até a atividade humana, a contaminação e a falta de atenção a um desastre que todos já viam que estava prestes a ocorrer.

As análises do governo apontam o fenômeno El Niño e o aquecimento global ocasionado pelos países industrializados como culpados.

O vice-ministro de Recursos Hídricos e Irrigação, Carlos Ortuño, cita dados científicos que estabelecem que a temperatura mínima aumentou 2,06º C nos últimos 56 anos, e que o El Niño provocou secas desde outubro.

A falta de água como fruto da ação humana também é apontada como uma das causas.

Os lagos Poopó e Titicaca dependem da entrada de água do rio Desaguadero. Mas um plano diretor da década de 1990 acabou privilegiando o Titicaca, impedindo a passagem de água para a bacia do Poopó.

Além disso, o próprio rio foi afetado pela atividade humana, que o usa para seus cultivos, sistemas industriais e de mineração.

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