As ideias que mais rapidamente nos atrai, e que são defendidas com o maior número de perdigotos, são justamente aquelas que servem apenas para complicar o que vinha funcionando bem. Nosso instinto nunca se dirige para o prático e simples; macacos sem rabo que somos, preferimos tudo o que é complicado e burocrático.
Se acontece uma catástrofe no país e são apresentadas duas soluções - uma delas rápida e eficiente, a outra disparando carimbos e emissões de cópias autenticadas -, nós, invariavelmente, escolhemos a última.
Mostre a invenção de um aparelho que tire sozinho o pó dos móveis para uma multidão, que não dará nem 15 minutos para surgir uma voz fanha e acanalhada dizendo que é preciso regular o projeto ou que o aparelho vai tirar o serviço de milhares de pessoas.
Perceba como todas as novas formas de ganhar a vida que surgiram nos últimos anos são mais combatidas do que o mosquito da dengue, e todo indivíduo que as inventou foi, sem exceção, punido pelos chamados órgãos competentes.
Se por um lado a novidade é sempre mal vista, encontrar uma maneira de complicar as coisas é sempre recebida de pé e aos aplausos. É certo que o sujeito que invente uma nova imbecilidade burocrática para atrasar a vida alheia receberá loas e sairá por aí dando entrevistas e conferências.
Dê uma olhada nos projetos de lei dos parlamentares, por exemplo, e você descobrirá que 90% não passam de propostas para complicar aquilo que vinha funcionando muito bem. São projetos para regulamentar profissões (de designer de interiores à prostituição); é um novo decreto para controlar a internet; é uma nova lei para impedir o uso disto e mais daquilo; são proibições contra aplicativos de celular, serviços de vídeo por demanda e por aí vai. É assim que funciona a política - e, pior, com a aprovação de boa parte da população.
Nossa crença em decretos, em carimbos e diplomas excede os limites do bom senso - a pessoa que acredita no poder do carimbo já perdeu a capacidade de ter um pensamento inteligível. O que dizemos quando pedimos mais regulamentação é, basicamente: “Opa, vamos lá delegar mais poder àqueles que sempre nos enganaram. Acho que dessa vez funciona.”
Estamos sempre em busca de algo mais burocrático. Se podemos complicar, para que facilitar? Vivemos pensando em coisas como novas leis, carteirinhas profissionais e papéis autenticados. Somos uns tapados; uns caipiras que ficam olhando admirados para o crachá no pescoço do burocrata bigodudo do outro lado do balcão. Temos esse talento, que falta aos outros animais, para adotar as soluções mais estúpidas.
O verdadeiro objetivo do burocrata não é buscar uma melhor qualidade do serviço; é o de se proteger, de se salvar da sua própria incompetência.
O que o faz acordar de manhã não é a ideia de viver em um mundo menos complicado, mas o de criar uma nova imbecilidade que dificultará a vida de todos. Durante o processo, ele coça a cabeça, tira sujeira das unhas, enfia o dedo no nariz e, finalmente, a ideia que ele buscava surge em sua cabecinha oca.
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