domingo, 20 de setembro de 2015

Uma era de incertezas

Sei que o problema não é só nosso, e que a Europa, por exemplo, não descobriu ainda uma solução para os milhares de refugiados que buscam o continente, fugindo da miséria e das guerras. As nossas incertezas não atingem essa dimensão trágica, nem a de países que estão sujeitos a terremotos, como o Chile; são dúvidas menores que se apresentam sob a forma de crise em várias frentes, que não deixam de afetar nossa vida cotidiana.

A mais frequente delas, mas não a mais grave, é a temperatura, cada vez mais incerta. Fui a São Paulo outro dia levando os agasalhos que a meteorologia recomendava, e achei que estava desembarcando no Santos Dumont, nesse nosso verão de 39 graus em pleno inverno (antigamente, os jornais chamavam o calor carioca de “senegalês”; hoje, parece que a imprensa de lá chama o verão deles de “carioquês”).

Para essas mudanças bruscas, porém, basta trocar de roupa e tomar remédio contra o resfriado ou a gripe. Mas e contra a incerteza econômica, o que fazer? A CPMF vai mesmo voltar? Ela passa no Congresso? E a inflação vai ser de quanto? E o desemprego? E o custo de vida? O pacto de ajuste vai resolver a crise fiscal, a recessão e a perda do selo de bom pagador? O ministro Edinho Silva disse que o governo não tem plano B. E se nada do plano A der certo?

Como se todas essas questões não fossem suficientes, há a incerteza política de um país na dúvida se a presidente vai conseguir terminar o mandato, seja por renúncia ou por impeachment. A julgar por sua preocupação, o risco é grande. Esta semana mesmo ela discursou umas três vezes defendendo a sua administração e acusando de golpismo os que querem interrompê-la. Segundo ela, seria uma “versão moderna de golpe de Estado”.

Deve haver os que agem assim por motivos mesquinhos, mas generalizar é no mínimo uma ofensa a personalidades como os respeitáveis juristas Miguel Reale Jr. e Hélio Bicudo, que já protocolaram pedido de impeachment na Câmara dos Deputados. Bicudo, petista histórico, um dos fundadores do partido, não deixou a presidente sem resposta: “Impeachment não é golpismo, é um remédio prescrito na Constituição; golpismo é de quem fala que é golpe”. Sem o mesmo peso político, mas com o mesmo objetivo, há mais uns 16 pedidos para serem avaliados pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha.

Não se sabe o que é pior, se a incerteza em relação ao presente ou se, no caso de afastamento da presidente, a insegurança com o que viria depois. Não é em toda ruptura de governos que surge um Itamar Franco.
Zuenir Vedntura

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