Ensina o sábio dito popular que a corda sempre arrebenta do lado mais fraco. E a política vive a nos mostrar que essa é uma verdade incontestável. Na última quarta-feira o Brasil recebeu a notícia de que uma agência de classificação de risco influente baixou o grau de investimento do país. O que significa isso, em bom português? Que o Brasil não é mais visto pelos analistas de tal agência como um lugar seguro para que empresas multinacionais façam seus investimentos.
Reagir à perda do grau de investimento tentando desqualificar a agência de classificação de risco é perda de tempo. Fato é que a agência sinaliza para o mercado. Assim, a notícia agravará a recessão que já é sentida na indústria, no comércio e, principalmente, nas camadas mais pobres da população.
E qual a primeira proposta desenhada pelo governo da presidente Dilma Rousseff para tentar combater essa crise? Aumento de impostos. Em outras palavras, a conta por uma política econômica atrapalhada, pelos desmazelos de um governo que nem sequer conseguiu estabelecer um diálogo decente com o Congresso Nacional, vai para o trabalhador, que já sustenta uma das mais pesadas cargas tributárias de que se tem notícia.
A crise brasileira, a rigor, não pegou ninguém de surpresa. Ela foi desenhada ao longo de um mandato que se caracterizou pela absoluta falta de diálogo não só com a classe política, mas também com a própria sociedade, e da inabilidade de lidar com quem o contraditório. Consertar o estrago, a essa altura, com o fantasma da inflação, do desemprego e da recessão se materializando, quase sempre descamba para providências improvisadas.
Uma delas foi enviar uma proposta de Orçamento deficitário para o Congresso, na esperança de dividir com o parlamento a responsabilidade pelos arranjos que a economia precisa. Outra foi a de ressuscitar o malfadado imposto sobre as transações financeiras, traiçoeiramente criado no passado para socorrer a saúde, mas que serviu a propósitos outros, sobre os quais nem vale a pena lembrar.
Tudo isso pode ser resumido assim: o contribuinte, mais uma vez, será chamado a quitar uma fatura que não é sua, será responsabilizado por um contrato que não fechou.
Já se passou quase um mês desde que foi prometido, mas até agora não se mexeu no absurdo número de ministérios que compõe a pesada máquina administrativa federal. Que tal começar por aí? O ajuste fiscal começa nas contas públicas, fechando os escoadouros por onde escapa o dinheiro que nós, cidadãos trabalhadores, tiramos de nossas casas, de nossas famílias, para financiar a sociedade.
Não precisamos ser ingênuos para nos permitir esperar mais da política. Sim, sabemos que na chamada real politik os avanços são lentos e condicionados à conveniência dos grupos e de concessões de todos os lados. Porém, depois de 25 anos de vigência da Constituição que nos legou o maior período de normalidade institucional da República, precisamos avançar de fase. E isso significa dizer que os políticos precisam parar de criar os problemas que depois fingem resolver.
Ibaneis Rocha
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