sábado, 12 de setembro de 2015

O governo falha e quem trabalha paga

Ensina o sábio dito popular que a corda sempre arrebenta do lado mais fraco. E a política vive a nos mostrar que essa é uma verdade incontestável. Na última quarta-feira o Brasil recebeu a notícia de que uma agência de classificação de risco influente baixou o grau de investimento do país. O que significa isso, em bom português? Que o Brasil não é mais visto pelos analistas de tal agência como um lugar seguro para que empresas multinacionais façam seus investimentos.


Reagir à perda do grau de investimento tentando desqualificar a agência de classificação de risco é perda de tempo. Fato é que a agência sinaliza para o mercado. Assim, a notícia agravará a recessão que já é sentida na indústria, no comércio e, principalmente, nas camadas mais pobres da população.

E qual a primeira proposta desenhada pelo governo da presidente Dilma Rousseff para tentar combater essa crise? Aumento de impostos. Em outras palavras, a conta por uma política econômica atrapalhada, pelos desmazelos de um governo que nem sequer conseguiu estabelecer um diálogo decente com o Congresso Nacional, vai para o trabalhador, que já sustenta uma das mais pesadas cargas tributárias de que se tem notícia.

A crise brasileira, a rigor, não pegou ninguém de surpresa. Ela foi desenhada ao longo de um mandato que se caracterizou pela absoluta falta de diálogo não só com a classe política, mas também com a própria sociedade, e da inabilidade de lidar com quem o contraditório. Consertar o estrago, a essa altura, com o fantasma da inflação, do desemprego e da recessão se materializando, quase sempre descamba para providências improvisadas.

Uma delas foi enviar uma proposta de Orçamento deficitário para o Congresso, na esperança de dividir com o parlamento a responsabilidade pelos arranjos que a economia precisa. Outra foi a de ressuscitar o malfadado imposto sobre as transações financeiras, traiçoeiramente criado no passado para socorrer a saúde, mas que serviu a propósitos outros, sobre os quais nem vale a pena lembrar.

Tudo isso pode ser resumido assim: o contribuinte, mais uma vez, será chamado a quitar uma fatura que não é sua, será responsabilizado por um contrato que não fechou.


A carga tributária no país é de 35% do Produto Interno Bruto, acima de muitos países desenvolvidos. Com um agravante: não há a contraprestação. Sim, porque em países desenvolvidos o cidadão paga mais impostos, mas não tem de se preocupar em pagar por educação, saúde, transporte, segurança e outros quesitos básicos de uma vida cidadã.

Já se passou quase um mês desde que foi prometido, mas até agora não se mexeu no absurdo número de ministérios que compõe a pesada máquina administrativa federal. Que tal começar por aí? O ajuste fiscal começa nas contas públicas, fechando os escoadouros por onde escapa o dinheiro que nós, cidadãos trabalhadores, tiramos de nossas casas, de nossas famílias, para financiar a sociedade.

Não precisamos ser ingênuos para nos permitir esperar mais da política. Sim, sabemos que na chamada real politik os avanços são lentos e condicionados à conveniência dos grupos e de concessões de todos os lados. Porém, depois de 25 anos de vigência da Constituição que nos legou o maior período de normalidade institucional da República, precisamos avançar de fase.  E isso significa dizer que os políticos precisam parar de criar os problemas que depois fingem resolver.
Ibaneis Rocha

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