domingo, 6 de setembro de 2015

Não há mais recursos na despensa da casa comum, prega encíclica

A Terra é um planeta pequeno, velho, com a idade de 4,44 bilhões de anos, 6.400 km de raio e 40 mil km de circunferência. Há 3,8 bilhões de anos surgiu nele todo tipo de vida, e há cerca 7 milhões, um ser consciente e inteligente, altamente ativo e ameaçador. O preocupante é o fato de que a Terra já não possui reservas suficientes em sua despensa para fornecer alimentos e água para seus habitantes.

O dia 13 de agosto foi o Dia da Sobrecarga da Terra. É o que nos informou a Rede da Pegada Global, que, junto com outras instituições, como a WWF e o Living Planet, acompanham sistematicamente o estado da Terra. A pegada ecológica humana (quanto de bens e serviços precisamos para viver) foi ultrapassada. As reservas da Terra se esgotaram, e precisamos de 1,6 planeta para atender as nossas necessidades sem ainda considerar aquelas muito importantes da grande comunidade de vida (fauna, flora, micro-organismos). Em palavras de nosso cotidiano: nosso cartão de crédito entrou no vermelho.

Até 1961 precisávamos apenas de 63% da Terra para atender as nossas demandas. Com o aumento da população e do consumo, já em 1975 necessitávamos de 97%. Em 1980, exigíamos 100,6%, a primeira sobrecarga da pegada ecológica planetária. Em 2005, já atingíamos a cifra de 1,4 planeta. E, atualmente, 1,6.

Se hipoteticamente quiséssemos universalizar o tipo de consumo que os países opulentos desfrutam, dizem-nos biólogos e cosmólogos, seriam necessários cinco planetas iguais ao atual, o que é absolutamente impossível, além de irracional.

Para completar a análise, cumpre referir a pesquisa feita por 18 cientistas intitulada “Os limites planetários: um guia para o desenvolvimento humano num planeta em mutação”, publicada na prestigiosa revista “Science”, de janeiro de 2015 (bom resumo do Instituto Humanistas Unisinos de 9.2.2015). Aí se elencam nove fronteiras que não podem ser violadas, caso contrário colocamos sob risco as bases da vida.

Quatro das nove fronteiras foram ultrapassadas, mas duas – a mudança climática e a extinção das espécies –, que são fundamentais, podem levar a civilização a um colapso. Foi o que concluíram os 18 cientistas.

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Tal dado coloca em xeque o modelo de análise da economia pelo Produto Interno Bruto (PIB). Este implica uma profunda intervenção nos ritmos da natureza e de exploração dos bens e serviços. Esse modelo é uma falácia, pois não considera o tremendo estresse a que submete todos os serviços globais que garantem a continuidade da nossa civilização. De forma irresponsável, considera tal fato, com suas graves consequências, “externalidades”, vale dizer, fatores que não entram na contabilidade nacional e internacional das empresas.

E assim vamos ao encontro de um abismo que se abre logo a nossa frente. Curiosamente, nas discussões sobre temas econômicos que se organizam semanalmente nas TVs, quase nunca se faz referência aos limites ecossistêmicos da Terra. Com raras exceções, os economistas parecem cegos pelas cifras do PIB.

Se todas as fronteiras forem violadas, como tudo parece indicar, o que acontecerá? Temos que mudar nossos hábitos de consumo, as formas de produção e de distribuição, como não se cansa de repisar a encíclica do papa Francisco sobre o cuidado da casa comum. Mas sobre isso os analistas não dizem sequer uma palavra. Mal imaginam que podemos conhecer um armagedon ecológico-social sem precedentes.

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