A presidente Dilma Rousseff tem duas opções: achar que o pior já passou, e que o tempo se encarregará de arrefecer a rejeição da maioria dos brasileiros ao seu governo, a se levar em conta não só as multidões que ocuparam, ontem, as ruas, mas também pesquisas de opinião pública prestes a sair do forno.
Ou então adotar medidas que convençam o distinto público de que ela está disposta de fato a mudar. Como e mudar para quê, não sei.
Lula se queixa abertamente do que aponta como indisposição de Dilma para conversar, e até mesmo para ouvir conselhos. Engrossou com ela a semana passada durante reunião no Palácio da Alvorada.
Quem estava por lá jura que Lula bateu forte com a mão na mesa e levantou a voz com Dilma, cobrando dela que reformasse o quanto antes o ministério medíocre que montou. Dilma também gritou.
Se dependesse de Lula, Dilma reservaria a Aloízio Mercadante (PT-SP) apenas a chefia da Casa Civil da presidência, sem que se metesse com a coordenação política do governo.
Dilma mandaria embora da coordenação política o ministro Pepe Vargas (PT-RS), das Relações Institucionais, considerado por Lula como fraco. E o substituiria pelo ministro Jaques Wagner (PT-BA), da Defesa.
Não ficaria só nisso. Dilma seduziria o PMDB com a oferta de mais um ou dois ministérios, de modo a que se tornasse mais difícil para ele abandoná-la.
E restabeleceria relações com Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente do Senado, e Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara dos Deputados. Renan, mais do que Eduardo, aumentou a distância de Dilma. E ela não pode se dar a esse luxo.
A equipe de comunicação do governo deveria ser totalmente revista, segundo Lula. É com o marqueteiro João Santana que Dilma ainda troca ideias. Pois ela tem cultivado o isolamento.
Para refletir, informam alguns dos seus porta-vozes. Por desconfiança com os que a assediam, admite gente ligada a Lula. Um dos ministros do governo afirma que Dilma parece perdida. Ou está mesmo.
É tudo o que não é possível, observa Lula.
Dilma deveria ser humilde a ponto de fazer um pronunciamento à Nação pedindo desculpas pelos erros que cometeu. E explicando com mais clareza e sem truques o ajuste fiscal que está sendo obrigada a promover.
João Santana dará um jeito de ser um pronunciamento melhor do que o mais recente, recepcionado por um panelaço.
Quanto ao resto...
Dilma não poderia cair na tentação de amenizar o arrocho fiscal para satisfazer as tendências mais à esquerda do PT e de outros partidos.
E que continuasse circulando pelo país, de preferência em áreas capazes de tratá-la bem, à espera dos resultados da política econômica do ministro Joaquim Levy, da Fazenda.
Por fim, se Dilma fosse de rezar, que rezasse.
Em momentos de aperto severo, Lula reza. Desculpa-se por ter escolhido Dilma para sucedê-lo, mas argumenta que não tinha outro nome.
Antonio Palocci e José Dirceu, nomes naturais, haviam se danado com o mensalão.
Arrepende-se de não ter acertado com ela sua volta como candidato a presidente da República no ano passado. Imaginou que Dilma deixaria a cadeira para ele. Enganou-se.
Como se vê, a receita de Lula para que Dilma se recupere é a mais convencional possível. Aplicado a ele talvez desse certo, mas por ser Lula quem é.
Dilma não tem outro caminho a não ser o apontado por Lula. Reclame à vontade. Diga que continuará governando de olho em sua biografia. Não tem jeito. Fará o que seu mestre mandar. O contrário seria o imponderável.
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