O noticiário político, em todos os seus formatos, é uma agressão ao estômago de qualquer um de nós. Não posso, porém, deixar de dizer algo sobre o ex-presidente Lula. Poderia ter tido a oportunidade de conhecê-lo pessoalmente quando o ex-prefeito Pimenta da Veiga (cuja derrota para o governo de Minas foi uma perda para o Estado e para o país), já no segundo turno das eleições de 1990, o recebeu em casa da prefeitura na Pampulha (que não sei se ainda existe). Uma visita cordial, mas que teve significado político. Não foram poucos os tucanos que, com o insucesso de Mário Covas, optaram pelo voto no líder petista.
Não vai aqui, embutido no parêntesis supra, juízo de valor sobre o governador eleito, Fernando Pimentel, também ex-prefeito de Belo Horizonte, a quem desejo sucesso não só no governo, mas, principalmente, e por ser no Estado o seu chefe supremo, na condução em Minas do seu partido, que se distanciou da ética que sempre pregou.
Na época, aquele Lula se preparava para alcançar o maior e mais difícil cargo no país, mas perdeu a Presidência da República para Fernando Collor de Melo – um mal que desabou sobre nós e que tem reflexos até hoje. Voltei à era Collor não para trazê-la de volta, mas para fundamentar o que desejo dizer. Ou seja: Lula era um líder sindical que precisava ser lapidado. Comandava um partido recém-nascido, que teve incrível chance de iniciar um novo rumo para o país. E mais: poderia ter nascido, naquelas eleições, uma aliança entre PSDB e PT, se os seus principais líderes pensassem, juntos, no bem do país.
Nada do que imaginava, porém, aconteceu: primeiro, a vitória do tucano Mário Covas, e, depois, a de Lula, afinal abatido por quem acabou defenestrado da Presidência da República. Lula só foi aceito depois dos dois governos de Fernando Henrique Cardoso: por alguns poderosos porque viam nele “certo glamour”; por outros, como eu, porque viam nele mistério e esperança; pelo povo sofrido porque representava a certeza do resgate de uma dívida social que não foi paga até hoje. No primeiro mandato, no seu início, e antes do mensalão, reacendeu por pouco tempo o sonho de um governo voltado para as classes mais necessitadas. No segundo, já não era o mesmo e, no fim, não soube indicar o sucessor: tirou-o do bolso do colete. Esqueceu-se de que, quando isso ocorre, o candidato é sempre menor do que o bolso…
No início, sem influência de qualquer ideologia, Lula queria, apenas, promover os trabalhadores, mas, depois, o poder lhe subiu à cabeça. Por isso, não soube governar e não soube, repito, indicar o sucessor. Lula poderia ter sido um bem infungível, que não se desgasta com o tempo. Só melhora. Sua trajetória, na vida pública, se deu de modo inverso: em vez de se aprimorar, piorou. Senão, vejamos.
Dentre as inúmeras e toscas intervenções, trago à baila, leitor, somente estas três preciosas pérolas: a primeira quando, em defesa da candidatura de Dilma, afirmou que “eles não sabem do que seríamos capazes de fazer para elegê-la”; a segunda quando foi a Caracas para apoiar a candidatura do ditador Nicolás Maduro à Presidência da Venezuela; a terceira quando, em ato supostamente a favor da Petrobras, ameaçou chamar às ruas o “exército do Stédile”, líder do MST, para enfrentar os inimigos do seu partido e do atual governo.
Lula, possuído pela vertigem do poder, fragiliza ou ameaça agora, leitor, claramente, o que mais desejamos – a democracia.
Até quando?
Acílio Lara Resende
Nenhum comentário:
Postar um comentário