segunda-feira, 9 de março de 2015

Ao acusar Cunha, Janot agravou a crise

 
O procurador-geral Janot aceitou acusações frágeis demais
Depois do verdadeiro furacão causado pela chamada “lista de Janot”, a poeira começa a assentar e vão surgindo informações que verdadeiramente comprometem o trabalho do procurador-geral da República.

Como se sabe, Rodrigo Janot assumiu claramente a defesa da presidente Dilma Rousseff, ao fazer uma criativa interpretação da Constituição Federal e se recusar a pedir investigação sobre ela, alegando simplesmente que os crimes foram cometidos no mandato anterior. Contraditoriamente, Janot pediu abertura de inquérito contra o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, e o senador tucano Antonio Anastasia, sem que nos autos existam provas materiais ou sequer acusações sólidas contra ele. Quer dizer, pode haver algo de podre na “lista de Janot”.

Todos sabem que o deputado Eduardo Cunha é um político altamente polêmico, para se dizer o mínimo. Sabe-se que o deputado fluminense presidiu a Telerj no governo Collor, depois integrou o governo de Anthony Garotinho no Estado do Rio, quando sofreu algumas acusações de irregularidades, mas nada ficou provado contra ele, foi diretor da Rádio Melodia de programação evangélica, elegeu-se deputado na condição de líder religioso, é considerado altamente conservador e se tornou um dos parlamentares mais influentes do Congresso.

No caso da lista de Janot, a denúncia contra Eduardo Cunha é baseada num depoimento confuso do policial Jayme Alves de Oliveira Filho, que informou ter levado dinheiro do doleiro Alberto Youssef para o deputado do PMDB e entregue numa casa no Rio, mas quem mora no local é o advogado do deputado estadual Jorge Picciani. Logo em seguida, o próprio Youssef desmentiu o policial, dizendo que jamais mandar entregar propina a Cunha.

Em sua delação premiada, o que Youssef disse sobre Cunha foi ter sido informado de que o deputado pressionara a empresa Mitsui, que supostamente suspendera o pagamento de propina ao PMDB. E essa informação, segundo a denúncia de Janot, teria sido reforçada por um pedido de informações sobre a Mitsui, apresentado na Câmara por uma deputada do PMDB-RJ, Solange Almeida, por suposto pedido de Cunha. Ou seja, ainda não há, diretamente, nada de concreto contra o presidente da Câmara.

O caso do senador Antonio Anastasia (PSDB-MG) é pior ainda. O parlamentar mineiro também foi indiciado com base apenas no mesmo depoimento confuso do ex-policial que trabalhava para o Youssef e que disse ter reconhecido depois o senador por fotos vistas em jornal. O próprio doleiro desmentiu a acusação, afirmando que jamais enviou propina a Anastasia. Mesmo assim, o procurador Janot incluiu o senador tucano na lista.

Nos autos, havia muito mais provas contra José Dirceu, por exemplo. Segundo Youssef, Dirceu mantinha uma estreita relação com o empresário Julio Camargo, da Toyo Setal, um dos operadores dos desvios de recursos da Petrobras para o bolso de políticos e partidos. Na contabilidade de Camargo, Dirceu era chamado de “Bob”. Mas Janot não quis abrir denúncia contra o ex-ministro. Se o juiz não o fez, ele poderia fazê-lo.

Com esse comportamento dúbio, poupando Lula, Dilma e José Dirceu e incriminando Cunha e Anastasia sem provas contundentes, o que o procurador Janot conseguiu foi o agravamento da crise institucional. Agora, o presidente da Câmara está convicto de que Janot foi instruído pelo Planalto e não descansará enquanto não demolir o governo da presidente Dilma Rousseff.
Carlos Newton

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