domingo, 22 de fevereiro de 2015

Pondo os pingos nos is



Tenho acompanhado as análises em torno da crise que atualmente envolve o governo federal. Vou dizer o que penso.
Começo por criticar os que usam o conceito de “intervencionismo estatal” para avaliar os equívocos no período em que Dilma (sobretudo esta) e Guido Mantega reinaram absolutos na condução da economia do país. A consequência imediata dessa avaliação é a de atribuir a esse keynesianismo tupiniquim (e, a meu ver, deslocado no tempo: qual nacional-desenvolvimentismo vai funcionar no mundo de hoje?, perguntaria, com certeza, Celso Furtado) o mal maior que assolou e destruiu supostos pilares saudáveis do desenvolvimento brasileiro. E o corolário inevitável disso é tecer loas ao mercado, ente maior e mais respeitável da vida das nações, esse deus diante de quem todos devemos nos curvar. Para esses, a escolha de Joaquim Levy é a tábua de salvação.

De minha parte, considero as receitas neoliberais ou liberais, ao contrário de muitos, em qualquer tempo da história das nações, também um brutal intervencionismo do Estado na condução da economia.

O busílis da questão se coloca – para ser muito clara – em termos de a quem beneficiar com essa intervenção: ao capital financeiro com total primazia ou também outros setores dominantes ou dominados na vida social? Então, Joaquim Levy, para mim, pratica um intervencionismo total: basta ver os cortes profundos que deseja produzir nos gastos públicos e os setores que ele quer penalizar com maior rigor. E olha que não sou daqueles que o consideram um demônio arrasador. Creio, inclusive, que ele poderá fazer um saneamento profundo em desperdícios que não se explicam na máquina federal. Vou dar um exemplo: por que manter dois sistemas de acompanhamento das questões ligadas ao trabalho? Refiro-me ao paralelismo entre as antigas DRTs, hoje superintendências, e os Sines. Ambos fazem a mesma coisa, mas ninguém pensa em unificá-las porque, nas primeiras, apenas o governo federal pode nomear pessoas. Verdadeira “farra do boi” porque não são apenas os salários, mas o trança-trança do pessoal com passagens aéreas cheias e as diárias desperdiçadas em reuniões aqui e acolá. Para quem não sabe, passagem “cheia” é a mais cara e serve para trocar horários ao sabor do freguês... Então, confio que Levy pode dar um “basta” nesse sorvedor de dinheiro do contribuinte, embora não afete nem de longe o superávit primário. Que ele também faça um bom saneamento no FGTS e no FAT, de onde d. Dilma tirou dinheiro do trabalhador para forjar seus “campeões nacionais”...

Discordo, e os petistas têm sido péssimos para reagir às medidas sobre seguro-desemprego, pensões e abonos, porque nesses há muita gordura a ser cortada, sim, mas fazendo incidir os cortes de maneira progressiva, e não linear... Acontece que Dilma tem deixado a esquerda atônita e a direita à vontade, e isso é o melhor dos mundos para o capital financeiro.

No mais, é a falta de tirocínio do outrora aguerrido Partido dos Trabalhadores.

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