Parece que o diabo resolveu prolongar indefinidamente a sua
estadia, saindo da campanha para instalar-se no mundo real.
Numa campanha eleitoral “a gente faz o diabo”, mas o que não
contaram é que, depois da campanha, já eleitos, o diabo continuaria sendo
feito.
Dois dias depois da apuração o Banco Central aumentou a taxa
Selic, o que tiraria o pão da boca das crianças, segundo a propaganda
eleitoral, os combustíveis aumentaram, a presidente reconheceu que a inflação
que estava “sob controle” na campanha virou um problema no dia seguinte, e
várias outras surpresas que podem ser resumidas assim: todo o saco de maldades
que a oposição executaria se eleita foi aberta pela presidente reeleita.
Ou seja: se reeleito, faça tudo aquilo que você dizia que a
oposição ia fazer. Não descansarei na luta contra a corrupção, dizia a
candidata, mas a base governista da reeleita no parlamento opera os velhos
truques regimentais para que a CPI da Petrobrás morra de senilidade precoce.
Da cartola do mágico saltaram notícias que estavam
represadas para não sobressaltar as urnas: o desmatamento da Amazônia avançou
122% (na campanha a candidata insinuou que estava caindo), a miséria parou de
cair, o desequilíbrio fiscal passou das medidas, as montadoras demitem mil por
mês, e o crescimento do PIB de 2014 aproxima-se vertiginosamente do zero e o
paradoxo do pleno emprego enquanto os gastos com seguro desemprego não param de
crescer indica claramente que falta um parafuso estatístico para dar sentido a
essa equação.
O truque dos truques, porém, estava reservado para alguns
dias mais tarde: se a bola que você chuta contra o gol não entra de jeito
nenhum, trate de aumentar o tamanho das traves, até a bola entrar, o governo
mandou para o Congresso um projeto de lei que o autoriza a descumprir a Lei de
Diretrizes Orçamentárias - LDO - e as metas de superávit primário que ele
mesmo, governo, tinha fixado.
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