O que vimos nos últimos meses foram candidatos surdos orquestrando seguidores intolerantes, que, imbuídos de fé messiânica, carregam a Verdade em estandartes
Quando domingo, no começo da noite, as urnas apontarem o
nome de quem nos governará pelos próximos quatro anos, teremos chegado ao fim
de um processo que demonstrou, de forma clara, quão débil é a nossa jovem
democracia. Ganhe Dilma Rousseff, ganhe Aécio Neves, o novo presidente
terá conquistado apenas metade do eleitorado brasileiro, ou seja, estará à
frente de um país dividido por discursos maniqueístas, que colocaram de um lado
“pobres”, de outro, “ricos”; de um lado “sul-sudeste”, de outro, “nordeste”; de
um lado “esclarecidos”, de outro, “ignorantes”: reduzindo a vida da nação a uma
luta de tribos que se odeiam.
Democracia é o regime que busca administrar os interesses
divergentes da sociedade e, para isso, vale-se da negociação entre as partes. O
que vimos, no entanto, nos últimos meses, foram candidatos surdos orquestrando
seguidores intolerantes, que, imbuídos de fé messiânica, carregam a Verdade
(com vê maiúsculo) em estandartes, transportando perigosamente para o campo da
política procedimentos típicos de torcidas de futebol, ou, pior ainda, emulando
simulacros de facções religiosas, que se alimentam de ódio e ressentimento.
Nesse meio tempo, amizades foram desfeitas, amores chegaram ao fim, famílias se
tornaram reféns do rancor.
O processo eleitoral deveria ser o momento em que os
candidatos, representando os mais diversos segmentos da sociedade, expõem
suas propostas de governo para convencer-nos a dar-lhes um voto de
confiança. Embora tenhamos problemas gravíssimos a serem resolvidos, não houve
ninguém que, objetivamente, tenha utilizado o espaço da propaganda eleitoral e
o tempo dos debates para apresentar projetos que pudessem pelo menos
minimizá-los. Assistimos a uma espécie de rinha de cachorros, que, açulados
pelos donos, atacam-se com o objetivo de destruírem-se.
A verdadeira democracia é o exercício do diálogo visando à conciliação e não a imposição de opiniões calcadas em pretensas verdades irrefutáveis.
Nenhum comentário:
Postar um comentário