Segundo o Instituto DimiCuida, ao menos 56 crianças e adolescentes morreram ou se feriram nos últimos dez anos por causa de jogos e desafios como sufocamento, asfixia, ingestão de detergente, atear fogo ao corpo, automutilação e outros.
Crianças e adolescentes não têm discernimento suficiente para entender os riscos desses procedimentos. Mas o ódio nas redes é tanto que o comentário mais comum é “seleção natural”. Culpam também os que mais sofrem pela tragédia: pais e avós. Existe, sim, negligência, mas muitas famílias desconhecem os riscos, acham que Tiktok pode ser brinquedo de criança. Por isso é tão importante disseminar o conhecimento sobre os perigos do ambiente digital.
Albert Einstein disse: “A ciência nos deu meios terríveis de destruir uns aos outros, mas não a sabedoria e a ética para impedir que os utilizássemos”. A humanidade enfrenta esse paradoxo em cada salto tecnológico — e a internet talvez seja o maior deles.
Ela se tornou em grande parte um território perigoso. Máquinas viciantes que priorizam lucros sobre direitos e bem-estar, as redes sociais minam o tecido democrático, disseminam conteúdos tóxicos, fake news, ódio e todo tipo de crimes. A mesma tecnologia que permite a uma criança acessar o conhecimento humano também pode levá-la ao sofrimento ou ao perigo extremo.
O problema é coletivo, e as soluções também serão. Já é quase consenso no Brasil que o excesso de vida digital está fazendo mal a todos nós. A reação já começou e está se acelerando nos últimos meses. O banimento do celular nas escolas foi um grande passo.
Educação midiática é fundamental. As famílias precisam saber da importância de postergar a entrega do celular e a entrada nas redes sociais, ao menos até o fim do ensino fundamental. Precisam supervisionar, garantir o respeito ao estudo, sono, leitura, esporte e convívio com pares. Educadores e familiares precisam ajudar os jovens a entender os riscos do algoritmo, a respeitar o próximo, a desenvolver pensamento crítico sobre o conteúdo tóxico.
Para isso temos o Guia sobre Uso de Dispositivos Digitais, recém lançado pelo governo federal, e iniciativas do MEC para capacitar professores e inserir a educação midiática no currículo.
Precisamos também de cidades amigáveis, que estimulem todas as famílias a levar os filhos para a praças e parques, para a cultura, o esporte e o livre brincar.
É urgente a regulamentação do ambiente digital. Não podemos mais aceitar que plataformas lucrem com a disseminação de crimes e conteúdos perigosos. Como escreve Maria Mello, do Instituto Alana, “precisamos de modelos que respeitem os direitos humanos, que priorizem a vida... e que se comprometam, de forma concreta, com a construção de uma internet justa, segura e democrática.”
Só podemos alcançar isso pela lei. O PL 2628 visa proteger crianças e adolescentes no ambiente digital, responsabilizando plataformas pelo dever de cuidado, por retirar conteúdos nocivos, exigir verificação etária e dar limites a publicidade infantil. Para aprová-lo, será preciso superar o discurso mentiroso de “censura e ameaça a liberdade de expressão” da extrema direita.
O Ministério da Justiça trabalha para adaptar a classificação indicativa ao mundo digital, e anunciou a criação de um aplicativo para impedir acesso a plataformas que produzem conteúdo impróprio.
São nossas escolhas que vão determinar o impacto da tecnologia digital. Cabe a nós enfrentarmos os interesses poderosos e lutar pela vida de nossos filhos. Podemos ser um exemplo para o mundo.
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