Ao colocar o emblema durante a sessão plenária, o diplomata Gilad Erdan afirmou que pretende usar a estrela até que os membros do conselho condenem explicitamente as atrocidades cometidas pelo grupo terrorista Hamas contra cidadãos israelenses. "Usaremos essa estrela até que vocês acordem e condenem as atrocidades do Hamas".
A estrela amarela é um dos principais símbolos de perseguição aos judeus, que em diferentes momentos históricos foram obrigados a usá-la como um sinal de identificação. A prática teve início no século 8º, no Califado Omíada, por imposição de governantes muçulmanos. Mais tarde, foi introduzida na era medieval europeia pelos cristãos. Seu uso mais recente e conhecido ocorreu durante o Holocausto, no século 20, quando os nazistas obrigaram os judeus de territórios ocupados a portarem variações da estrela com a palavra "judeu" inscrita no meio.
Além do embaixador Erdan, outros membros da delegação israelense na ONU exibiram a estrela na sessão de segunda-feira. Ao justificar por que havia feito isso aos representantes do Conselho, o embaixador evocou a história do Holocausto: "Alguns de vocês não aprenderam nada nos últimos 80 anos. Alguns de vocês esqueceram por que esse órgão foi criado."
"Portanto, vou lembrá-los. A partir de hoje, toda vez que olharem para mim, vão se lembrar do que significa ficar em silêncio diante do mal", disse o embaixador, referindo-se ao ataque terrorista do Hamas a Israel em 7 de outubro. "Assim como meus avós e os avós de milhões de judeus, de agora em diante minha equipe e eu usaremos estrelas amarelas", disse, levantando-se para afixar no peito de seu terno a insígnia, com a inscrição "Never Again" ("Nunca mais", em inglês). "Usaremos essa estrela até que vocês acordem e condenem as atrocidades do Hamas."
Até o momento, o Conselho de Segurança das Nações Unidas, formado por 15 membros, não chegou a um consenso sobre um posicionamento unificado em relação à guerra entre Israel e o Hamas, que resultou na morte de 1.400 israelenses e numa dura resposta de Israel, que vem travando operações militares na Faixa de Gaza, enclave palestino controlado pelo grupo fundamentalista. Até o momento, quatro propostas de resoluções naufragaram no conselho por causa de divisões entre os cinco membros permanentes (Estados Unidos, Rússia, China, Reino Unido e França), que têm poder de veto.
Duas propostas russas que eram vagas em mencionar o Hamas foram vetadas pelos EUA ou não conseguiram votos suficientes. Um texto dos americanos, mais explícito no apoio a Israel, por sua vez, foi vetado pela Rússia e China. Um quarto texto, proposto pelo Brasil e que chegou a garantir 12 votos, foi vetado pelos EUA sob a justificativa de que não fazia referência aos direitos de autodefesa dos israelenses.
Até o momento, apenas uma resolução foi aprovada, na Assembleia Geral, que não tem o mesmo poder do Conselho de Segurança para impor decisões. O texto, que pede uma "trégua humanitária" na Faixa de Gaza, atualmente sob cerco de Israel, tem tom similar às propostas russas, evitando mencionar o Hamas.
O gesto de Gilad Erdan de exibir a estrela foi mal recebido por alguns setores da sociedade israelense. O Yad Vashem, o memorial oficial de Israel para lembrar as vítimas judaicas do Holocausto, que pediu que o diplomata usasse a bandeira israelense em vez da estrela.
O presidente do Yad Vashem, Dani Dayan, político e empresário que também teve uma controversa carreira como diplomata, disse "lamentar" a ação da delegação israelense em Nova York. "Esse ato desonra as vítimas do Holocausto, bem como o Estado de Israel", escreveu na rede X, antigo Twitter.
"A estrela amarela simboliza o desamparo do povo judeu e o fato de ele estar à mercê de outros. Agora temos um Estado independente e um exército forte. Somos os donos de nosso próprio destino. Hoje prenderemos em nossa lapela uma bandeira azul e branca, não uma estrela amarela", disse Dayan, que em 2015 chegou a ser indicado como embaixador no Brasil, mas nunca chegou a assumir o posto por causa da oposição de Brasília, que não simpatizava com a associação de Dayan ao movimento de assentamentos judaicos na Cisjordânia ocupada.
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